São Paulo, domingo, 14 de maio de 1995
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Militares queriam 'explosivos nucleares'

GILBERTO DIMENSTEIN
DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Um documento secreto preparado pelo Conselho de Segurança Nacional brasileiro justifica o programa nuclear paralelo e define como um de seus objetivos a produção de ``explosivos nucleares". É ressalvado que esses explosivos teriam ``fins pacíficos".
Destinado ao então presidente João Baptista Figueiredo, o documento leva a assinatura do general Danilo Venturini, à época secretário do Conselho de Segurança Nacional, coordenador do programa nuclear paralelo. Foi elaborado em novembro de 1984.
``Em face dessas dificuldades (pressão exterior) para se desenvolver uma tecnologia independente, foi necessário não apenas conseguir um adequado quadro gerencial, como conduzir um elevado grau de sigilo das atividades necessárias."
Mais adiante, o texto afirma: ``Para alcançar o objetivo fixado, foi necessário desenvolver tecnologia própria, adequada às condições nacionais, para permitir o domínio do ciclo do combustível nuclear, incluindo o enriquecimento do urânio e o reprocessamento do material irradiado."
A expressão ``reprocessamento do material irradiado" estimula os temores de físicos. O físico Rogério Cerqueira Leite lembra que, do urânio enriquecido, prepara-se o plutônio e passa-se para a bomba atômica.
General aposentado, Venturini disse à Folha que os explosivos nucleares não significariam a construção de uma bomba atômica. Eles se prestariam a obras de engenharia, que necessitassem de explosão -abertura de um canal, por exemplo.
``Nunca tivemos qualquer propósito bélico", afirma Venturini, ressaltando que, já em 1967, o Brasil firmou na ONU, em Genebra, o direito de dominar a energia nuclear, o que poderia levar à produção de ``artefatos nucleares para fins pacíficos".
Segundo ele, o Brasil não poderia abrir mão da pesquisa nuclear, já que seu potencial hidrelétrico é limitado. ``As aplicações da energia nuclear são notáveis", afirma o general. Segundo ele, os EUA recusavam-se a transferir tecnologia e o acordo de não-proliferação de armas seria `` humilhante".
O programa nuclear paralelo, exposto no documento, sempre esteve na mira da embaixada americana no Brasil e da CIA, servindo como um dos grandes mistérios nacionais (leia texto abaixo).
O texto, em sua segunda página, registra o item ``objetivo dos projetos autônomos", onde expõe que a energia nuclear permitiria a propulsão naval e a produção de explosivos.
Logo em seguida, sob a rubrica ``específicos", há uma referência ao projeto Solimões, a ser administrado pelo Ministério da Aeronáutica. O projeto Solimões deveria cuidar dos explosivos nucleares.
O Conselho Nacional de Energia Nuclear (Cnen) deveria tocar o ``Projeto Celeste". Ele cuidaria do ``reprocessamento de combustível para a produção de plutônio".

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