São Paulo, domingo, 14 de maio de 1995
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Só vitória pode baixar angústia palmeirense

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Parece praga do Edmundo. Mas o fato é que o Palmeiras não consegue ganhar um jogo neste campeonato há tempo demais para um bicampeão. Para cúmulo do desespero palestrino, no meio da semana, empatou com a Ponte, lanterninha do certame e saco de pancadas desta temporada.
Só uma boa vitória sobre o Santos, esta tarde, poderá baixar o nível de angústia do torcedor, hoje em dia mais esverdeado de raiva do que de paixão. Acontece que o Santos vem embalado, na vice-liderança, a uma vitória do topo da tabela, o que lhe confere, por incrível que pareça, o favoritismo no clássico deste domingo.
Com Giovanni espalhando classe e eficiência no meio-campo, Macedo infernizando lá na frente e Marcelo Passos com o pé na fôrma, é muito provável que o Palmeiras adie sua recuperação.
Mas será que sua impaciente e apaixonada torcida aceita qualquer adiamento?

Falei em praga de Edmundo, mas não creio. No creo, pero que las hay, las hay.
Outro dia mesmo, conheci uma personalidade que até então existia na minha memória em forma de figurinha carimbada. Refiro-me a Augusto, centroavante de brilho intenso e fugaz, no raiar dos anos 50. Pois Augusto, que diziam ser filho de Leônidas da Silva, o Pelé daqueles tempos que se despedia do futebol nesse mesmo ano, estreou no São Paulo na maior goleada que a história do Paulista registra até hoje: 10 a 0, sobre o Guarani, que subia à Primeira Divisão. Augusto fez cinco gols. E, dizem, Godê, lateral bugrino, rogou uma praga: o São Paulo jamais seria tricampeão. Não foi naquele ano, nem até hoje, embora tivesse disputado por cinco vezes esse laurel.
Assim como os 23 anos do Corinthians na fila do título, de 54 a 77, ficou no imaginário popular como sinistro resultado de praga rogada por Pitico, um crioulo alto, espigado, implacável nas disputas de bola, que formava a linha média da Ponte com Carlito Roberto e Carlinhos.
E há o célebre episódio do sapo do Arubinha, imortalizado em crônica de Mário Filho, mas essa história fica para outro dia, que o ar já está carregado. Bico de pato, mangalô, treis veiz.

E o tricolor chega diante do União vergado sob a carga da desclassificação na Copa Brasil, sua última alternativa para cortar caminho em direção à Libertadores. Perdeu a chance diante do Grêmio, um time armado com jogadores recrutados aqui e ali, sem grande expressão. Mas, sob a orientação inteligente e firme de Luiz Felipe, conseguiu formar um conjunto heróico, capaz de passar por cima de Palmeiras, São Paulo e quantos mais cruzem sua estrada.
O equilíbrio se irradia em todas as suas linhas, a partir do goleiro Danrlei, a mais grata revelação na sua posição nos últimos tempos. E chega a Paulo Nunes e Jardel, Mutt e Jeff, o baixinho ágil, de reflexos rápidos, e o gigante que de tonto não tem nada. Um veio do Fla; outro, do Vasco. E ambos se juntaram no Grêmio para fazer história.

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