São Paulo, domingo, 14 de maio de 1995 |
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Retoques na paisagem combatem calor urbano
PAULO FERNANDO SILVESTRE JR.
Pesquisadores da Universidade da Califórnia e do Laboratório Lawrence, ambos em Berkeley (EUA), descobriram que intervenções que não exigem gastos com novas construções e equipamentos podem ser mais eficientes (e baratos) na redução de altas temperaturas urbanas. Haider Taha, que liderou o grupo de pesquisadores, passou os últimos dois anos realizando simulações em computador, pesquisando novos materiais e tentando descobrir o que poderia ser feito para minimizar o chamado "efeito de ilha de calor urbano". Esse efeito é caracterizado pela tendência de grandes cidades de se tornarem cada vez mais quentes. Segundo ele, o uso de cores claras nas coberturas e telhados das construções e o plantio de uma quantidade razoável de árvores na cidade seria o suficiente para reduzir 4oC na temperatura média de Los Angeles (EUA), cidade de 4,5 milhões de habitantes. A utilização de cores claras -preferencialmente o branco- é facilmente explicável. Segundo Paulo Artaxo, 40, do Departamento de Física Aplicada do Instituto de Física da USP, isso serve para "aumentar o albedo" da região. Albedo é a relação entre a luz que um corpo celeste, como a Terra, reflete e a que ele recebe de uma fonte luminosa, como o Sol. As cores claras têm a propriedade natural de refletir a radiação que recebem. "Aumentando o albedo, aumenta-se também a porcentagem de radiação mandada de volta à atmosfera, esfriando o ambiente", explica Artaxo. Também parece ser senso comum que o aumento de vegetação reduz a temperatura do ambiente. Áreas bem arborizadas de São Paulo são mais frias que o centro da cidade, mesmo quando são muito urbanizadas, como é o caso da região dos Jardins. Artaxo explica que essa propriedade das plantas se deve ao fato delas aumentarem a quantidade de vapor de água na atmosfera. "A água tem alto poder calorífico e isso esfria o ambiente", diz. Alto poder calorífico significa que a água tem a propriedade de "guardar" grande quantidade de calor, evitando grandes variações de temperatura no ambiente. Por esse motivo, cidades litorâneas têm temperaturas mais homogêneas no decorrer do dia, pois o mar "guarda" calor quando há Sol e o devolve à noite. Homem X meio A "ilha de calor" é um efeito causado especialmente pelo aumento da urbanização -que consome as áreas verdes da cidade- e da quantidade de veículos nas ruas. O caso de Los Angeles exemplifica bem o problema. Construída em uma região desértica, a cidade apresentava temperaturas médias de 39° no verão, antes de se tornar a metrópole que é hoje. Quando um rio foi desviado para permitir a irrigação e plantação de pomares, a temperatura na mesma época do ano caiu para 36°C. Hoje, com os edifícios e o asfalto ocupando áreas cada vez maiores, a temperatura voltou para os 39°C e deve continuar subindo. Para comprovar a "ilha de calor", basta medir a temperatura das áreas em volta da metrópole, que estão sempre 3°C mais frias. Como é resultado da ação direta do homem no meio, Taha acredita que o mesmo homem pode desfazê-lo realizando as intervenções por ele propostas. Artaxo não compartilha da mesma opinião quanto ao método de se reduzir o problema. Segundo ele, a realização ou não desse tipo de interferência é uma "questão filosófica", independentemente de sua eficácia. "É melhor atacar as causas dos poluentes ou alterar ainda mais o ambiente para balanceá-las", questiona o pesquisador brasileiro. Texto Anterior: INFLUÊNCIA; SEXO ROMANO; CANAL LIVRE Próximo Texto: COMO ESFRIAR UMA CIDADE Índice |
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