São Paulo, segunda-feira, 15 de maio de 1995
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Companhia de José Limón visita o Brasil

ANA FRANCISCA PONZIO
ESPECIAL PARA À FOLHA

Está de passagem pelo Brasil a José Limón Dance Company, uma das companhias históricas da dança moderna norte-americana.
Ela foi fundada em 1949 por Limón (1908-1972), mexicano que aos sete anos mudou-se para os Estados Unidos com a família.
Atualmente ela é dirigida por Carla Maxwell, que foi uma das principais bailarinas do grupo.
Hoje, a José Limón Dance Company estréia em Brasília, no teatro Nacional Claudio Santoro. Na quarta-feira realiza apresentação única em São Paulo, no Sesc Pompéia. Depois, segue para Curitiba e Salvador.
Em entrevista por telefone, Carla Maxwell falou sobre Limón e sua relação com Doris Humphrey (1895-1958), pioneira da dança moderna, que foi mentora e professora do coreógrafo.

Folha - Como a José Limón Dance Company preserva a obra de seu fundador?
Carla Maxwell - Hoje somos uma companhia de repertório. Em nossas temporadas sempre apresentamos pelo menos um clássicos nosso, junto com trabalhos criados especialmente para o grupo.
Os coreógrafos que convidamos não precisam ter nosso estilo, mas devem tratar de temas relativos à condição humana.
Folha - Limón tinha um objetivo específico com a dança?
Carla - Sua meta era expressar temas densos, que preocupam todo mundo.
Folha - Limón coreografava inspirado em temas de sua época. Essas peças sobrevivem?
Carla - Por exemplo, durante o período macarthista, nos EUA dos anos 50, Limón ficou muito perturbado com a situação de modo que as pessoas enfrentavam.
O significado da traição o inquietou muito e ele quis expressá-lo em dança.
Daí recorreu à literatura e à história e realizou um espetáculo baseado na relação de Cristo e Judas. ``The Traitor" estreou em agosto de 1954.
Por tratar de assuntos com os quais as pessoas sempre se relacionam, como amor, ódio, vingança, traição, beleza, dor, tristeza e felicidade, a obra de Limón é eterna.
Folha - Os ensinamentos de Doris Humphrey, que influenciou Limón, continuam inspirando a companhia?
Carla - Inúmeros elementos inspiraram Doris Humphrey, mentora e professora de Limón.
Ela expressava temas sobre o ser humano, usando-o como se nele vivessem Apolo e Dionísio.
Pensava que uma parte de nós pede harmonia, equilíbrio, e outra parte reage contra, dizendo: ``enfrente o perigo, o desconhecido, explore!".
Humphrey aplicou isto a princípios básicos do movimento. E essas idéias ainda nos norteiam.
Folha - Quais suas lembranças mais marcantes de Limón?
Carla - Quando ingressei na companhia, em 1965, ele estava próximo dos 60 anos. Era um homem poderoso e forte e tinha uma tremenda capacidade criativa.
Era capaz de ficar acordado, refletindo, durante a noite. Mas, quando chegava no estúdio, mostrava movimentos que pareciam escorrer torrencialmente dele.
Nós, do elenco, tínhamos apenas que acompanhar seu ritmo.
Como artista, Limón sempre procurava extremos. Dizia que, dentro de si, possuía o divino e o bestial e que, nisso, era preciso encontrar o equilíbrio.

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