São Paulo, terça-feira, 16 de maio de 1995
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Corrupção policial

MAURO MARCELO DE LIMA E SILVA

Não existe nenhuma outra instituição onde a descoberta da corrupção cause tanto furor e estrago. O trabalho policial é único na sociedade, e do policial se espera que seja o guardião da paz, da lei e da ordem. Sua missão é proteger as nossas vidas, nossa propriedade e nossa liberdade, e, por isso, lhe são conferidos poderes, autoridade e prerrogativas, que devem ser usados em favor da sociedade.
Não podemos, entretanto, esquecer que o policial é pinçado do mesmo ``caldeirão" de onde saem os integrantes das outras instituições -a sociedade. E, ao fazer o trabalho de ``limpeza" nessa sociedade, o policial se expõe a constantes tentações -situação rara em outras instituições.
A linha divisória polícia-crime é tênue; mais, o policial, para poder cumprir bem o seu mister, precisa pensar como o criminoso, agir como ele, e é aí que reside o problema, pois o malefício do condicionamento adaptativo corrói as entranhas morais do policial fraco. Se não tiver estrutura, vai descobrir que é mais fácil ser bandido do que polícia.
A corrupção não é exclusividade nossa. Em 1970, a polícia de Nova York foi considerada a mais corrupta da América, levando o prefeito Lindsay, baseado em artigos do ``The New York Times", a criar a ``Knapp Commission", para investigá-la -uma comissão composta por 13 cidadãos, dentre promotores e juízes aposentados, com experiência no trabalho policial. Essa comissão foi dividida em dois grupos, um para a coleta de informações -que eram analisadas sem o caráter punitivo, mas tão somente para identificar aqueles padrões- e outro formado para estudar a tabulação das informações, analisando tópico por tópico a corrupção, além dos efeitos anticorruptivos a serem aplicados.
Como resultado, a curto e médio prazo, foram feitas modificações no sistema de seleção e ensino dos novos policiais e vários policiais foram afastados.
Os policiais desonestos faziam a corrupção ser respeitada e eram maus exemplos aos novos policiais. É a chamada ``rotten apple theory", teoria da maçã podre. É muito difícil para o policial honesto permanecer honesto no meio de policiais desonestos.
Assim como os fatores criminológicos levam o ser humano a se transformar em criminoso, ninguém pode negar que o salário é mais um fator de corrupção, seguido pela má-formação, ineficiência das leis e ingerência política.
Os efeitos dessa implacável guerra contra os corruptos na América foi uma profissionalização da polícia, com melhor seleção, centralização de comandos e aplicação de tecnologia de ponta para a elucidação do crime. Para minimizar o problema no Brasil, precisamos desenvolver uma política anti-corruptiva, que enfatize a imagem positiva, a ética e o profissionalismo da função policial.

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