São Paulo, terça-feira, 16 de maio de 1995
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Morre pedreiro que denunciou tortura

VALMIR DENARDIN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SOROCABA

Morreu na madrugada de anteontem o pedreiro José Augusto da Silva, 30, que afirmava ter sido vítima de tortura cometida por três policiais militares de Votorantim (98 km a oeste de São Paulo).
A causa da morte ainda não foi apurada. O laudo do IML (Instituto Médico Legal) deve ficar pronto até o final da semana.
O Hospital Regional de Sorocaba (87 km a oeste de São Paulo), onde o pedreiro estava internado desde o dia 26 de março, deve divulgar hoje um boletim sobre o caso (leia texto ao lado).
Em entrevista à Agência Folha na última terça-feira, no leito do hospital, o pedreiro disse que foi torturado por três PMs para que confessasse a participação no roubo de um caminhão.
Silva negou que tenha participado do roubo. Os PMs Rogério de Souza, 22, Adriano Pena, 22 e Gilson Ibanez, 29, negaram em depoimento à Polícia Civil que tenham espancado o pedreiro.
Os policiais militares envolvidos no caso não dão entrevistas. Eles continuam trabalhando em suas funções.
O 4º Batalhão da PM em Votorantim informou que abriu um IPM (Inquérito Policial Militar) para apurar a denúncia.
José Augusto da Silva morreu à 0h40 de domingo. Ele se recuperava de uma cirurgia para a retirada de um tumor no pâncreas. A cirurgia foi realizada no último dia 2.
Boletim médico enviado pelo hospital à Justiça -do qual a Agência Folha obteve uma cópia- afirmava que o tumor ``provavelmente" teve ``origem traumática".
Segundo Silva, no mesmo dia da cirurgia, dois PMs, que ele não soube identificar, entraram no quarto do hospital e o espancaram. Um paciente que estava no mesmo quarto confirmou a agressão.
Em boletim elaborado na última terça, o médico Celso Simoneti, que cuidava do pedreiro, afirmou que, no pós-operatório, ele apresentava ``evolução satisfatória".
O enterro foi ontem no cemitério Santo Antônio, em Sorocaba. A mulher de Silva, Gilma Batista de Souza, 26, disse que só soube da morte do marido no domingo à tarde, quando foi ao hospital.
Gilma afirmou que da última vez que visitou o marido no hospital, na quinta, ele estava se recuperando bem da cirurgia.
A diretora clínica do Hospital Regional, Sônia Ferrari Peron, 41, afirmou que os funcionários comunicaram a PM sobre a morte do pedreiro à 1h30 de domingo, pedindo que a família fosse avisada.
``Como ele era preso, só tínhamos na ficha o endereço da cadeia", disse Sônia Peron.

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