São Paulo, terça-feira, 16 de maio de 1995
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Juros altos já provocam demissões

ANTONIO CARLOS SEIDL
DA REPORTAGEM LOCAL

O nível de emprego na indústria de São Paulo teve queda pela primeira vez neste ano. A indústria demitiu, na primeira semana de maio, 1.974 trabalhadores, de acordo com a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
Este é o primeiro indicador de que a manutenção pelo governo dos juros elevados está levando o país para uma recessão. A avaliação é de empresários ouvidos ontem pela Folha na Fiesp.
Para Carlos Eduardo Uchoa Fagundes, diretor titular do Departamento da Micro, Pequena e Média Indústria da Fiesp, produzir com os juros atuais é ``impraticável".
Para ele, a consequência dos juros altos é a redução da atividade econômica, com demissões e protelação dos investimentos de curto e médio prazos.
Uchoa Fagundes, presidente da Associação Brasileira da Indústria da Iluminação, disse que maio está sendo ``muito ruim" para o setor.
Segundo o diretor da Fiesp, uma ``psicose" anticonsumo está se formando no país em resposta ao apelo do governo à população pelo adiamento das compras.
Adauto Ponte, presidente da Associação Brasileira da Fundição, disse que o governo está ``extrapolando" a política de juros altos, o que ``levará o país à recessão".
Ele disse ver uma situação conjuntural ``difícil", porque a redução da produção impedirá a absorção dos custos pelas empresas, provocando aumento dos preços.
Benjamim Funari Neto, diretor do Departamento de Infra-Estrutura Industrial da Fiesp, disse que a atividade industrial já parou de crescer por causa dos juros altos.
Para Funari, um dos efeitos do juros altos é a inadimplência (atraso de pagamentos de prestações e dívidas) na indústria.
Nélson Peixoto Freire, presidente da Abinee (Associação Brasileira da Indústria Eletroeletrônica) disse que há uma ``grande inadimplência" entre os clientes da indústria eletroeletrônica.
Segundo Freire, levantamentos preliminares mostram que as encomendas do comércio junto aos produtores de eletroeletrônicos devem cair de 5% a 10% em maio. ``As vendas do comércio para o Dia das Mães foram feitas com base em estoques adquiridos em meses anteriores".
Mario Bernardini, vice-presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas, disse que a indústria vive uma ``corrida contra o cronômetro", tentando se adequar ao tempo fixado pelo governo para a redução dos juros.

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sobre conjuntura econômica nas páginas 2-7 a 2-9

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