São Paulo, quarta-feira, 17 de maio de 1995
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Novo diretor do MIS quer levar "roda de amigos" à instituição

LUÍS ANTÔNIO GIRON
DA REPORTAGEM LOCAL

O produtor musical sergipano Fernando Faro, 67, assumiu anteontem a direção do MIS (Museu da Imagem e do Som) de São Paulo com a missão auto-imposta de fazer da instituição um ``caldeirão etnológico".
Mesmo caldeirões custam dinheiro. Com uma verba de R$ 350 mil anuais e pessoal reduzido, o museu vive uma crise crônica, conforme Faro reconhece.
Para compensar o problema, pretende se valer do prestígio pessoal para convencer artistas a colaborarem com projetos culturais ambiciosos.
``Vou levar a minha roda de amigos para trabalhar", afirma.
É uma roda ampla, que inclui praticamente todo o meio artístico nacional. Faro coleciona amigos desde o início da carreira, em 1950, quando fazia crítica de teatro no ``Jornal de São Paulo".
Seu trabalho mais importante aconteceu na TV. Dirigiu em 1960 o programa ``TV de Vanguarda", que inovou a linguagem do meio com iluminação e movimentos de câmera ousados. Em 1968, foi responsável pelo programa ``Divino, Maravilhoso", que lançou e encerrou o movimento tropicalista, liderado por Gil e Caetano.
Iniciou o programa musical ``Ensaio" na Tupi em 1968. Levou o mesmo formato à TV Cultura de São Paulo em 1971, sob o título de ``MPB Especial". O programa durou três anos. Há cinco, voltou à Cultura com o nome de ``Ensaio" e continua no ar.
Faro acaba de assumir a direção de programação de uma casa de espetáculos, a ser inaugurada em agosto (leia texto ao lado). Na última quarta-feira, recebeu convite do secretário estadual da cultura de São Paulo, Marcos Mendonça, para assumir o MIS.
Nesta entrevista concedida ontem, Faro conta como vai conciliar tantas atividades à de chefe de uma instituição pública. Adianta que o ``pessoal de confiança" que vai contratar para assessorá-lo no MIS não implicará demissões.

Folha - Por que você foi convidado a assumir essa função?
Fernando Faro - O secretário me chamou por indicação de um amigo, que lhe disse que eu era preocupado com a preservação da nossa memória cultural. Apresentei-lhe minhas idéias e tudo bem. A conversa durou duas horas. Disse-lhe que o MIS vem ao encontro de tudo o que penso a respeito da cultura brasileira.
Folha - Como você vai dirigir um museu em situação precária, com pouca verba?
Faro - Na minha vida tudo o que eu fiz foi com recursos reduzidos. Os programas só tinham a câmera e nada mais. O Caetano, por exemplo, gravou ``Ensaio" sem exigir quase nada.
Vou jogar com isso e levar músicos para darem ``canjas". Além disso, já há sinais para parcerias com a iniciativa privada.
Folha - Mas é o seu encanto pessoal que vai atrair pessoas?
Faro - Não sei. Só sei que quero meus amigos lá, o Paulinho da Viola, o Caetano. Vou levar a minha roda de amigos para trabalhar.
Folha - Você já tem nomes para ocupar os cargos de coordenadores de área?
Faro - Ainda não tenho idéia dos cargos a serem criados. Mas vou colocar nesses postos pessoas de minha confiança cujo trabalho eu conheço, gente que dá resultados. Não vão acontecer demissões porque o pessoal já está muito reduzido. Vou cobrar trabalho.
Folha - Como você vai lidar com a burocracia do museu?
Faro - Estou contratando uma pessoa que já trabalhou no MIS. Ela cuidará da burocracia e da parte financeira para mim. Quero me ocupar dos projetos.
Folha - Quais são?
Faro - O museu deve ter a ver com musa, com mosaico. Deve ser um caldeirão étnico. Vou implementar projetos de pesquisa da memória da MPB, da arquitetura e da fala. Quero realizar uma história dos cordões carnavalescos paulistas. Registrar o caminho da palavra na história da fala brasileira também é muito importante.
Quero recriar a memória visual da cidade via informática. Vou começar fazendo a reconstrução por computador do cine Santa Helena, base para a música paulista.
Quero levar os poetas concretos para fazer shows. O Augusto de Campos tem um trabalho musical com o filho e vamos mostrá-lo lá. Vamos fazer shows de segunda a sexta, sempre às 18h30. Levar para lá a velha e a nova guarda. Será o ponto de partida para uma grande coisa.

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