São Paulo, quarta-feira, 17 de maio de 1995
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Liberdade da rede causa polêmica nos EUA

MARINA MORAES
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE NOVA YORK

O radicalismo juvenil um dia cheirou a álcool. Os mimeógrafos cuspiam as cópias dos panfletos chamando a passeata.
O ímpeto adolescente de mudar o mundo persiste. Só que hoje em dia tira proveito da tecnologia. Quem é que vai manchar a mão de tinta quando pode usar uma mensagem na Internet?
Questão de ordem: deve haver algum limite para esse novo instrumento da política? A resposta da maioria dos norte-americanos é não, pelo menos por enquanto.
Mas que tem gente com coceira na mão para puxar o plugue da Internet, disso não tenha dúvida.
Muitos ainda não se conformam com a liberdade que as redes de computador oferecem ao usuário.
É possível deixar e receber mensagens anônimas para ou de milhões de outros cibernautas, mesmo que o objetivo seja derrubar o governo.
É possível incitar ao crime, à violência, ao racismo e não correr qualquer risco de punição.
Parece coisa de cartilha da esquerda, mas o fato é que as vozes do chamado aparato de segurança estão incomodadas com isso. Gostariam que o governo assumisse algum tipo de controle sobre a babel que se tornou a Internet.
Esse grupo inclui consultores de segurança de grandes companhias, agentes ligados à polícia norte-americana e, por incrível que pareça, até alguns liberais.
É que a ``subversão" da Internet, hoje em dia, é coisa da direita. E, se ainda envolve pouca gente, o potencial para crescer é enorme. Um terço das casas norte-americanas tem microcomputador e há 10 milhões de usuários das redes.
O assunto passou a ser debatido principalmente depois do atentado de Oklahoma, quando um simpatizante da extrema direita detonou um prédio do governo federal.
Consultando arquivos de diversos fóruns da Internet, descobriu-se que receitas para fazer bombas caseiras vinham sendo trocadas abertamente na rede.
Uma delas, dias antes do atentado, descrevia exatamente como fazer a mistura de fertilizante e óleo combustível, a mesma que gerou a explosão em Oklahoma. ``Deixe descansar por pelo menos meia hora", dizia o texto anônimo.
Depois do atentado, a Internet passou a ser veículo de pelo menos 5.000 mensagens diárias relacionadas a explosivos e bombas que você pode fazer em casa. A maioria partiu de gente associada a grupos nazistas e separatistas do país -vinha acompanhada por pregações políticas.
Não é de agora que essa gente elegeu a Internet como seu principal veículo de comunicação. Grupos que monitoram os radicais da direita americana descobriram a existência de pelo menos oito BBS dedicados ao debate, troca de mensagens e distribuição de literatura. As convocações para encontros e passeatas agora estão sendo feitas em um verdadeiro comício eletrônico.
Em Detroit, o grupo separatista Resistance Inc. criou um fórum na Internet só para discutir seu objetivo: a criação de um país independente só para brancos na região noroeste dos Estados Unidos.
Na Flórida, um ex-integrante da Ku Klux Klan formou uma entidade dedicada a disseminar informação racista pelas redes de computador.
Diz ele: ``aqueles que quiserem ter acesso a nossos dados podem continuar anônimos, podem expressar suas opiniões políticas sem correr o risco de serem patrulhados pelo vizinho".
Sem querer, o racista ajudou a explicar um dos motivos da rebeldia da garotada americana. A discussão política por aqui já faz tempo que eliminou os radicais e passou a servir a molecada com largas doses de mcdonald's ideológico, o politicamente correto. Assim, não existe adolescente que aguente.

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