São Paulo, quarta-feira, 17 de maio de 1995
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Queda de investimento força mudanças

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A BUENOS AIRES

Uma única nuvem se insinuou na catarata de boas notícias que desaba sobre o presidente Carlos Menem desde domingo: investidores externos estão desconfiados.
Tão desconfiados que se torna chocante a diferença de opiniões entre os homens de mercado internos e estrangeiros.
Em Buenos Aires, Rubén Berja, presidente do Banco de Mayo, é categórico: "Abriu-se um horizonte de certezas, com o que se restabelecerá o crédito e se dinamizará a atividade produtiva".
Sobre o ânimo externo, o melhor resumo está no título do jornal "Clarín", o principal da Argentina: "Uma curta lua de mel".
Refere-se ao fato de que, apesar da alta dos papéis argentinos no exterior, "será difícil manter a economia no bom caminho".
Será mesmo. Se pretender manter o modelo econômico adotado desde 1991, quando cravou o peso em US$ 1, a Argentina terá que demonstrar que é capaz de viver mais de seus próprios recursos.
Estudo publicado domingo pelo jornal conservador "La Nación" mostra que dois terços do crescimento de 1994 (7,1%) se deveram ao financiamento externo.
Entre 1990 e 1993, a Argentina recebeu cerca de US$ 24,5 bi em investimentos externos, o terceiro maior fluxo entre os mercados emergentes, após México e China.
Depois da crise mexicana de dezembro, não só os investidores externos se retraíram como o público interno sacou pesos dos bancos para trocá-los por dólares, mantendo-os fora do sistema financeiro.
Os bancos perderam 17% de seus depósitos totais (US$ 6,333 bilhões). O país perdeu cerca de US$ 4,2 bilhões de suas reservas (ou 26% do total em 1994).
Na semana passada, a incerteza eleitoral fez com que mais US$ 1 bilhão fugisse dos bancos. A volta desse dinheiro, prevista por Berja, deve ser decisiva.
Mas, por enquanto, o que está voltando é o dinheiro que fugiu pelo temor de um segundo turno e não o que escapou pelo "efeito tequila" (reflexo da crise mexicana).
Foi essencialmente o investimento externo que permitiu à Argentina combinar alto crescimento (34% desde 1991) com baixa inflação (3,9% em 1994).
Sem ele, o governo teria que escolher entre uma das duas coisas: ou desacelera a economia ou permite a volta da inflação.
A escolha já está feita: desacelerar a economia. O ministro da Economia, Domingo Cavallo, prevê crescimento de 3% este ano.
Acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê que exportações superem importações em US$ 6,1 bilhões este ano (contra US$ 2,3 bilhões em 1994).
O governo tem, portanto, que aumentar a arrecadação e reduzir seus gastos. Ambas as medidas diminuem o ritmo de atividade econômica. Menos atividade representa menos arrecadação de impostos.
Se não romper esse círculo de ferro, as nuvens negras se acumularão no horizonte.

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