São Paulo, sábado, 20 de maio de 1995
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Onde está o gás de cozinha?

SÍLVIO JOSÉ MARQUES

A maior greve da história dos petroleiros, em 1991, durou 24 dias. Não faltou gás de cozinha em nenhuma região do país. Desde os primeiros dias da greve, entretanto, os consumidores foram obrigados a pagar ágio. Resultado da propaganda criminosa do governo e das distribuidoras.
De lá para cá a situação se alterou um pouco. Em 1993, por exemplo, a capacidade de produção de gás de cozinha da Replan -a maior refinaria do país- dobrou, com a instalação de uma nova unidade de craqueamento. Em uma matemática simples, seria correto acreditar que os estoques também aumentaram. O problema é que a direção da empresa jamais informou a quantidade de estoque disponível.
Falta transparência, falta controle público. Sobra subserviência ao governo -coisa que os trabalhadores sempre denunciaram.
Agora, a história se repete. Não falta produto, mas a população se alarma com as notícias veiculadas sobre o assunto. Aumentam as filas nas distribuidoras e o ágio corre solto.
Dias atrás, os jornais noticiaram: um consumidor pagou R$ 8 por um botijão de gás -quando seu preço real é R$ 3,94- sob a alegação de que se tratava de produto importado. Um roubo.
Ora, a Petrobrás tem o monopólio da importação -ela compra o produto no exterior e o repassa pelo preço de sempre. Além disso, ninguém garante que o tal gás era mesmo importado.
A arma usada nesse assalto foi a desinformação. Os criminosos são facilmente identificáveis.
Primeiro, o governo. No Palácio do Planalto vale a política do quanto pior, melhor. Para fazer a população engolir a quebra do monopólio estatal do petróleo, estão dispostos a qualquer coisa -inclusive romper acordos assinados por um presidente da República, um ministro de Estado e um preposto da Petrobrás.
Segundo, as distribuidoras. Subsidiárias das grandes multinacionais do petróleo, elas fazem o jogo das matrizes -lobby pelo fim do monopólio. Querem meter a mão em um mercado que movimenta bilhões de dólares. Atuando apenas na distribuição, elas já roubam os consumidores. Imagine o que fariam de posse do negócio todo: exploração, refino, transporte...
Terceiro, a direção da Petrobrás. Preocupados em se manter nos seus cargos políticos, os diretores se apressam em fazer o jogo dos donos do poder.
Os petroleiros querem fazer um alerta e um apelo à população. Não comprem com ágio. Não falta gás e o preço é único e tabelado. Não culpem os trabalhadores petroleiros. Lutamos pela nossa dignidade. Hoje, somos nós as vítimas das acusações e mentiras do governo. Amanhã, podem ser os metalúrgicos. Depois, quem sabe, os químicos. Até que não reste no Brasil nenhuma categoria organizada, capaz de brigar pelos seus direitos e, com isso, impedir que outros sejam vítimas do mesmo conto-do-vigário.

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