São Paulo, quarta-feira, de dezembro de
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Aids não destrói vida sexual de soropositivo

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

O vírus da Aids não conseguiu destruir a sexualidade e a vida afetiva das vítimas. Passada a fase da depressão e do medo, solteiros portadores do HIV saem à procura de parceiros, infectados ou não.
A perspectiva da doença não tem sido limite para paixões que nasceram depois do vírus. Como a estudante Luciene, que acredita que seu namorado vai se livrar do vírus e que os dois terão filhos.
Casais que convivem com o HIV se dizem ainda mais apaixonados. ``Passamos os domingos fazendo planos para o futuro", diz Claudio Nascimento, 24, gerente de compras e militante homossexual. Seu companheiro, Adauto Alves, 30, é ativista de direitos humanos e portador do vírus.
``Sou eu quem levo o chá na cama quando ele pega uma gripe", diz Adauto. Cláudio, por sua vez, insistia em checar se o companheiro tomava os remédios na hora certa. ``Hoje sei que não devo invadir sua privacidade." Eles estão casados há um ano e só fazem sexo com preservativo.
Apesar dessa paz doméstica, a perspectiva da morte está presente nos casais onde um é soropositivo. Quando descobrem a infecção, é o parceiro com HIV que procura se separar. ``Ele tem medo de infectar o outro", diz José Araujo, 38, presidente do GIV, um grupo de auto-ajuda de São Paulo. Araujo também é soropositivo.
``O parceiro que não tem o vírus se aproxima mais ainda do outro", diz. Nas relações que estão começando, o parceiro infectado muitas vezes utiliza sua situação para ameaçar o companheiro.
Alguns casais fazem loucuras. O vendedor Luiz R., 28, quis se infectar quando descobriu que seu parceiro tinha o vírus. ``Ele queria sentir o que namorado sentia", relata Araujo. Hoje, sete anos depois, Luiz se arrepende. ``O companheiro caiu doente e Luiz, soropositivo, tem medo de não poder ajudá-lo nos anos que lhe restam."
No interior de São Paulo, uma professora de 20 anos se infectou para ficar ao lado do namorado, também professor. Hoje os dois estão casados e ainda bem de saúde. ``Ela tinha medo de perdê-lo."
Nas relações heterossexuais, os homens costumam abandonar as mulheres quando descobrem que elas são portadoras. ``As mulheres, ao contrário, mesmo infectadas pelos maridos, ficam ao lado deles até o fim", diz Araujo.
Foi assim com a comerciante Ana Lúcia Pinheiro, 28. Infectada pelo marido, ela cuidou dele até sua morte, em fevereiro passado. ``Não tenho mágoa, só saudade."

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Sobre Aids nas págs. 3 a 5

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