São Paulo, domingo, 21 de maio de 1995
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Inocentado de abuso infantil, Pedicini exige US$ 2,5 mi

MAURICIO STYCER
DA REPORTAGEM LOCAL

O norte-americano Richard Pedicini planeja entrar nas próximas semanas com uma ação civil contra o Estado pedindo reparação de danos morais e materiais no valor de, no mínimo, US$ 2,5 milhões.
Esta ação será a primeira de uma série planejada por Pedicini para recuperar pelo menos parte de algo que ele acha ter perdido para sempre: a sua reputação.
Pedicini ainda estuda mover ações contra os policiais que o prenderam e contra órgãos de imprensa que divulgaram informações que considera injuriosas.
Pedicini passou nove dias preso em abril de 1994, acusado de corrupção de menores (artigo 218 do Código Penal) e de fotografar cenas pornográficas envolvendo adolescentes (artigo 241 do Estatuto do Menor e do Adolescente).
Solto sob fiança em 20 de abril de 94, Pedicini viu o seu pesadelo se arrastar até 7 de abril de 95.
Naquele dia, o juiz Francisco José Galvão Bruno acolheu o requerimento da promotora Vera Martins Barretto, determinando arquivamento do inquérito número 12.922/94 por falta de provas.
Os 9 dias de prisão e os 361 dias de inquérito não abalaram o humor cortante de Pedicini, mas o transformaram num obcecado.
``Dormi mal na prisão, não porque tivesse algum peso na consciência, mas porque não tinha cobertor, nem roupa para trocar, nem como tomar banho", diz, rindo.
Obstinado em reunir provas de que foi vítima de um erro policial crasso e de que foi submetido a um linchamento moral pela TV e pelos jornais, Pedicini se transformou num homem de um só tema.
``Os abusos de direitos constitucionais que aconteceram comigo podem ocorrer com qualquer outro amanhã", diz insistentemente.
Não por acaso, hoje, ao falar da prisão e do inquérito de Pedicini, o juiz Galvão Bruno cita o filme ``O Homem Errado" (1956), de Alfred Hitchcock, no qual Henry Fonda vive um músico acusado falsamente de roubo.
``É uma coisa triste, terrível, que deixa todos que trabalham nessa área muito angustiados: a possibilidade de uma pessoa inocente ser processada e, muito mais, condenada", diz o juiz.
Representante da empresa norte-americana Webcraft, Pedicini chegou a São Paulo em 1990 para ajudar a implantar a chamada loteria instantânea, a ``raspadinha".
``Hoje, posso ir para o outro lado do mundo, na Índia, implantar uma loteria que, com certeza, alguém vai trazer manchetes de jornais do Brasil e escrever: `Governo da Índia contrata molestador de crianças'. Minha reputação é irrecuperável", diz Pedicini.
``Ninguém deve ter que conduzir a sua vida à espera de uma iminente batida policial sem um mandado válido. É por isso que existe o direito à vida privada."
Pedicini foi levado preso em meio a uma enxurrada. No dia 28 de março de 94 havia estourado aquele que ficou nacionalmente conhecido como o ``Caso da Escola Base".
Seis pessoas, entre donos da escola e pais, foram acusadas de abuso sexual e ato libidinoso contra alunos de 4 anos daquela escola, no bairro da Aclimação (região central de São Paulo).
No dia 9 de abril, depois de muita histeria da mídia e muito vaivém policial, o delegado Edélson Lemos foi afastado do caso, sendo substituído pelo delegado Gerson Carvalho, então titular da 1ª Delegacia Seccional.
Carvalho não demorou muito a concluir que as acusações contra os seis da Escola Base não procediam, mas antes prendeu Pedicini.

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