São Paulo, domingo, 21 de maio de 1995
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Os grevistas de US$ 1 mil

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA - Suponha-se que, de repente, o salário médio de todos os brasileiros fosse US$ 1 mil mensais. Posso adivinhar a reação satisfeita do leitor: seríamos, afinal, um país desenvolvido, sem tantas feridas sociais. Pergunta: qual o salário médio dos petroleiros?
Para dar essa resposta, vou me valer de uma fonte insuspeitíssima. O principal líder dos grevistas, Antônio Carlos Spis, deu o seguinte número à repórter Shirley Emerick: R$ 933,00. O que significa mais de US$ 1 mil.
Nem vou levar em conta os benefícios dos petroleiros. Por exemplo: aposentadoria com salário integral, graças a um generoso fundo de pensão, mantido, na sua maior parte, por recursos da empresa.
O ponto é o seguinte: os petroleiros integram a elite dos trabalhadores brasileiros. Vamos comparar, usando tabela preparada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação.
No início de carreira, uma professora do ensino básico com licenciatura plena (cursou a faculdade), ganhava, em março deste ano, em São Paulo, R$ 250,37. No Rio, R$ 154,32, Piauí, R$ 72. Note: são pessoas que cursaram faculdade e não professoras leigas ou que fizeram apenas magistério.
Não quero ofender ninguém, todas as atividades merecem respeito e devem lutar por melhores salários, independente de quanto ganham -nada contra os petroleiros lutarem para ter mais dinheiro no bolso, desde que dentro da lei. Mas na minha escala de valores professor é mais importante do que petroleiro.
Daí se vê mais um ângulo absurdo da greve ilegal -a sociedade é vítima de um grupo que, pelos padrões nacionais, está na lista dos incluídos socialmente.
PS - Por falar em salários, vale registro. O deputado Domingos Dutra (PT-MA) entrou com ação na Procuradoria Geral contra salários pagos por prefeituras do Maranhão. No município de São Benedito do Rio Preto, normalistas ganham R$ 6 e leigas, R$ 4,23. Em Lago Verde, é o dobro: uma normalista recebe R$ 12 e a leiga, R$ 8. Aviso ao leitor e ao revisor desta coluna: não é erro de digitação. É erro do país mesmo.

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