São Paulo, segunda-feira, 22 de maio de 1995
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'Democracia Radical' quer rever dogmas

CARLOS EDUARDO ALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

A luta ideológica no PT tem hoje no grupo ``Democracia Radical" o mais vigoroso defensor de uma revisão completa da política histórica da esquerda.
``O partido vem retrocedendo, ao se apegar a certas `verdades' da esquerda tradicional e ceder à pressão do corporativismo", diz um texto da corrente sobre o PT.
O curioso é que a ``Democracia Radical" tem origem em dois grupos que fizeram história entre os mais radicais do petismo.
A tendência nasceu da junção dos grupos ``Nova Esquerda", liderado pelo deputado José Genoino (SP), e ``Poder Popular e Socialismo", comandado pelo também deputado Eduardo Jorge (SP).
Genoino, na convenção do PT paulista de 84, provocava a ala trotskista aliada à corrente ``Articulação" gritando ``Eu sou é comunista". Jorge, nos anos 80, apavorava os petistas mais cordatos com a tese dos ``conselhos populares" para governar.
A união dos dois grupos se deu no final de 90, com a revisão política já encaminhada. ``A opção pela esquerda democrática e humanista vem antes da queda do Muro de Berlim (88), diz Genoino.
Jorge afirma que a inflexão política ocorreu quando foi secretário de Saúde da administração paulistana de Luiza Erundina (89-92). ``Percebi ali a necessidade de ter interlocução e governar com setores diferentes", afirma.
A ``direita do PT", como a ala é conhecida, recusa ferozmente a classificação. ``A luta que se trava hoje na esquerda é entre os que querem renovar, como é o nosso caso, e os que querem ficar com os dogmas do passado", diz Genoino.
O socialismo, nos textos da ``Democracia Radical", é palavra rara. ``O marxismo é uma referência importante, como Freud, mas o marxismo-leninismo é uma concepção autoritária", diz Jorge.
A sociedade idealizada pelo grupo petista, assim como o ideário confuso da maioria do partido, é difícil de ser visualizada.
O discurso da tendência é centrado na defesa do conceito de cidadania e na recusa do socialismo de Estado. Mas ela também recusa o rótulo social-democrata.
``O modelo social-democrata vive uma crise, até por sua base teórica marxista, e não concordo com o bem-estar social conquistado via tributação", diz Genoino.
Apesar do espaço conquistado no Congresso, o grupo de Genoino está encurralado no PT. Controla hoje apenas cerca de 10% dos postos de direção do partido. Entre seus parlamentares estão a senadora Marina Silva (AC) e o deputado federal Milton Temer (RJ).

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