São Paulo, segunda-feira, 22 de maio de 1995
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Hemocentro do PA libera sangue contaminado

ABNOR GONDIM
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELÉM

O Hemopa (Centro de Hemoterapia e Hematologia do Pará) liberou para transfusão, em novembro de 1992, bolsas de sangue com resultado positivo para sífilis e sob suspeita de estar contaminado com o vírus da Aids.
A irregularidade foi apurada em inquérito administrativo, obtido pela Agência Folha, sobre a demissão de duas funcionárias acusadas de negligência (desleixo).
O inquérito responsabilizou as funcionárias pelo erro cometido no exame de um doador positivo para sífilis e com indícios de Aids, em outubro de 92. O sangue foi considerado normal, mas a bolsa contendo o sangue foi incinerada.
A demissão por justa causa foi aplicada à chefe da Divisão de Sorologia, a bioquímica Maria de Fátima Costa, e à auxiliar de laboratório Denize dos Santos Paixão. Elas negaram as acusações e disseram que foram vítimas de perseguição política.
As funcionárias foram acusadas de usar ácido sulfúrico para limpar as placas de exame de sangue com a finalidade de agilizar os resultados e evitar a compra de novas placas. Essa substância, diz o inquérito, poderia transformar em negativos os resultados de exames feitos em doadores positivos para sífilis. Com isso, a doença poderia ser transmitida por transfusão de sangue liberado.
Foi o que aconteceu, segundo o relatório, com a bolsa 9.415, liberada em novembro de 92. O resultado do exame, com o uso de ácido sulfúrico, indicava negativo para sífilis. Um exame mais apurado constatou que o resultado correto era positivo para a doença.
O inquérito constatou também que folhas do livro de liberação de sangue foram retiradas para evitar a comprovação das irregularidades.
Ao avaliar a situação da Divisão de Sorologia, a nova chefe, Márcia Murta, informou à comissão que as irregularidades ``comprometem a qualidade dos produtos hemoterápicos (utilizados para transfusões), podendo ser transfundido Aids, hepatite e doença de Chagas" para os pacientes receptores de transfusão.
A direção do Hemopa afirmou à Agência Folha que todos os doadores com exames irregulares que tiveram sangue transfundido foram submetidos a novos exames e que, exceto o doador com sífilis, nenhum se mostrou contaminado pelas doenças transmissíveis.

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