São Paulo, terça-feira, 23 de maio de 1995
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Cardeal foi o 3º na hierarquia da Igreja

FERNANDO MOLICA
DA SUCURSAL DO RIO

Paulista de Joaquim Egídio, presidente da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) entre 1964 e 1970, d. Agnelo Rossi foi o brasileiro que mais poder acumulou no Vaticano, sede da Igreja Católica -onde ocupou cargos de 1970 a 1989.
Por 13 anos, entre 1970 e 1984, d. Agnelo foi prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos, o terceiro cargo em importância na hierarquia na igreja, responsável pelo trabalho de propagação da palavra de Cristo na África, Ásia e áreas da América Latina.
Ocupou também outros dez cargos no Vaticano, entre eles, o de presidente da Administração da Sede Apostólica. Sua transferência para o Vaticano ocorreu durante um período crítico nas relações da Igreja Católica com o regime militar implantado no país em 1964 (mesmo ano em que ele assumira a Arquidiocese de São Paulo).
Em 1969, sete frades dominicanos foram presos em São Paulo acusados de colaboração com o líder comunista Carlos Marighella.
No livro ``Batismo de Sangue", Frei Betto, um dos presos, conta que d. Agnelo foi visitar os presos e se negou a acreditar na versão de que tinham sido torturados. Betto afirma que, dos sete, apenas ele não havia sido torturado.
Segundo Betto, a reação de d. Agnelo chocou o mestre dos dominicanos, Vicent de Couesnongle, que viera ao Brasil acompanhar o caso, e acabou influindo em sua transferência para o Vaticano.
Ao contrário de d. Paulo Evaristo Arns, que o sucedeu na arquidiocese, d. Agnelo evitava se manifestar contra os militares.
O atual presidente da CNBB, d. Lucas Moreira Neves (bispo-auxiliar em São Paulo entre 1967 e 1974), diz, porém, que ele intercedeu por presos políticos junto aos militares. ``Ele tinha grande coragem", disse d. Lucas.
Fundador das CEBs (Comunidades Eclesiais de Base) em 1956, quando era bispo em Barra do Piraí (RJ), d. Agnelo Rossi, a partir dos anos 80, começou a fazer críticas ao trabalho de algumas delas, as quais, segundo o cardeal, priorizavam em excesso o trabalho político e social.
Na mesma época, fez críticas à Teologia da Libertação -corrente da igreja que destaca uma mensagem de caráter socializante que teria sido deixada por Cristo.
D. Agnelo era padre há 58 anos, bispo há 39 e cardeal há 30. Os cardeais são responsáveis pela eleição do papa e atuam na administração do Vaticano.

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