São Paulo, terça-feira, 23 de maio de 1995
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Os produtivos

Sete anos depois de publicar a lista dos improdutivos da USP, que causou grande polêmica nos meios acadêmicos, esta Folha trouxe no caderno Mais! do último domingo o ranking dos pesquisadores que mais produzem no Brasil.
Embora o número de publicações e citações de trabalhos científicos brasileiros tenha crescido significativamente desde a lista dos improdutivos, o quadro geral não é muito animador. Toda a produção brasileira de ``papers" responde só por 0,47% da mundial.
Mesmo quando comparados a trabalhos de outros países da América Latina e do Caribe, os escritos brasileiros têm menos impacto (citações por artigo) do que os de nações como Jamaica e Costa Rica, ainda que se deva fazer a ressalva de que esses países investem apenas em áreas muito específicas.
É também digno de nota que, entre os 170 pesquisadores brasileiros mais produtivos, nenhum deles venha das ciências humanas.
O critério do ranking da Folha, feito a partir da base de dados do Instituto para Informação Científica, dos EUA, pode ter cometido injustiças. Só foram consideradas citações de trabalhos publicados entre 81 e 93. Cientistas de renome que não publicaram nesse período mas continuaram sendo citados por seus trabalhos anteriores ficaram de fora. Grandes pesquisadores brasileiros que trabalham no exterior sem vínculo com uma instituição nacional não foram considerados.
Em vários países, criou-se uma espécie de acordo informal pelo qual alguns centros citam trabalhos de colegas de outros, mesmo que não sejam relevantes, apenas para melhorar a pontuação de ambos.
Mesmo com todas essas ressalvas, o critério híbrido publicação-citação em nível internacional ainda parece ser o mais indicado para a avaliação de instituições de pesquisa. Pode-se e deve-se aprimorá-lo avaliando também, por exemplo, o nível de ensino ministrado pelas universidades.
Uma coisa, porém, é certa. O Brasil apenas ganhou quando a sociedade, sete anos atrás, começou a cobrar resultados dos pesquisadores que, na maioria dos casos, é ela própria quem financia.

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