São Paulo, quarta-feira, 24 de maio de 1995
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Convulsão social

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Paulo Paim foi avisando logo cedo, ontem na Cultura:
- O nível de radicalização é muito grande. Eu estou muito preocupado, porque mais duas semanas e este país vai parar. Podemos estar entrando num período de convulsão social.
Obviamente, foi um misto de preocupação e ameaça. Ameaça que foi se desenhando melhor durante o dia, a ponto de trazer manchetes assustadas à noite, da CBN à Rede Brasil:
- A greve entra no 21º dia com radicalização.
- Petroleiros radicalizam.
As manchetes poderiam ter carregado até mais, na retórica. A cobertura revelou expressões mais fortes e mais exatas.
Por exemplo, no SBT, o ``calvário" ou ``sacrifício" de quem, na periferia, fica horas de fila para comprar gás.
- Calvário em busca de um botijão de gás.
O Aqui Agora mostrou casos ``tristes". Uma mulher que não consegue cozinhar para o bebê cardíaco, outra que passou a cozinhar para a família numa pequena lata com álcool.
Um outro exemplo é o risco de ``caos" ou ``colapso" ou ``calamidade" no transporte público. Foi o que se ouviu e viu ontem, seguidamente.
``O estoque das empresas de ônibus está chegando a zero, o que nos leva todos ao caos", disse o presidente do sindicato das empresas, na Manchete.
A Cultura explicou que ``15 empresas poderão parar se o diesel não for reposto, podendo afetar mais de dois milhões de passageiros em São Paulo".
Um último exemplo é a falta de combustíveis, que é capaz de levar à ``emergência".
``Nós estamos perto de um estado de emergência, já na quinta o Estado do Paraná entra em colapso total", afirmou o antes negociador, agora muito assustado, Artur da Távola, em entrevista à Record.
Mas nem falta de gás, nem de transporte, nem de gasolina -o que mais assustou ontem na greve não teve tratamento de retórica, talvez pelo impacto direto: ela já afeta os chamados ``serviços essenciais". Da manchete do Jornal Nacional:
- A polícia paulista já reduz o patrulhamento nas ruas por falta de álcool e gasolina.
Agora ficou claro, como afirmou o orgulhoso presidente da federação dos petroleiros, que `à categoria petroleira não está de píres na mão, não está buscando saída honrosa".

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