São Paulo, sexta-feira, 26 de maio de 1995
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Contra tudo e contra todos

WILSON BALDINI JR.

Imagine: o brasileiro Peter Venâncio, após apenas dois meses de treinos nos EUA, assina contrato com Don King, enfrenta Quincy Taylor, vence e acerta o combate tão esperado pelo título mundial dos pesos-médios.
Sonho? Nem tanto. Parte disso está feito. Venâncio entra para a história como o primeiro brasileiro a assinar contrato com o empresário de cabelos grisalhos e eriçados.
Venâncio, segundo no ranking da Associação, enfrenta amanhã, no Convention Center de Fort Lauderdale, o norte-americano Quincy Taylor, quarto colocado.
E agora? Daí para frente é que surgem as dúvidas. Não quanto à capacidade do brasileiro. Mas com a honestidade da negociação.
Venâncio pega um dos lutadores mais fortes da categoria. Em 27 lutas, Taylor venceu 24 (21 nocautes). Suas três derrotas aconteceram no início de carreira e para pugilistas consagrados como Terry Norris e Jorge Vaca.
Pior. Taylor é canhoto, nunca sofreu uma queda e já foi treinado pelo lendário Sugar Ray Leonard.
Mas era de se estranhar que Don King pudesse estar planejando algo de bom para o brasileiro. Apesar de Venâncio estar hospedado em uma bela casa de três quartos em Miami, onde existem todos os confortos na vila que King reserva para seus pupilos.
A esmola é muito grande e o santo precisa ficar desconfiado.
Lembram-se do técnico Ângelo Dundee, que disse para Maguila encurtar a distância contra Holyfield, em 89. Todos se recordam do que aconteceu no segundo assalto? Só Maguila que não.
E o Chiquinho de Jesus, que por duas vezes se aventurou nos EUA e teve pela frente Matthew Hilton e Julian Jackson no auge da forma? Isto para não recordar Tomás da Cruz contra Julio César Chavez, em 87, na França.
No boxe, a ocasião pode fazer um campeão. Hoje, entre os médios, talvez, os verdadeiros campeões não estejam com a posse do cinturão. Jorge Castro (AMB), Frank Liles (FIB) e Julian Jackson (CMB) estão em decadência.
Don King, sabendo disso e conhecendo o potencial do brasileiro, a quem já havia tentado contratar duas vezes, faz uma luta eliminatória com a certeza de possuir o campeão nas mãos.
Mas é lógico que não poderemos esperar muito de um gângster que cometeu dois assassinatos em Cleveland e que já cumpriu uma pena de três anos e meio.
Mas a torcida é toda de Venâncio. Contra tudo e contra todos.

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