São Paulo, sexta-feira, 26 de maio de 1995
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Telefones à vista

A Câmara aprovou anteontem em primeiro turno a emenda constitucional que abre o mercado de telefonia para a iniciativa privada. A própria Câmara ainda tem de submeter a emenda a um segundo turno para que ela siga para o Senado.
Trata-se da principal alteração na ordem econômica até agora encaminhada pelo governo. O setor das telecomunicações no Brasil ainda vive numa era jurássica, e o Estado não tem condições de investir tanto quanto seria necessário para ampliar e modernizar o sistema.
Nos Estados Unidos, onde o mercado é aberto e existe concorrência, o consumidor telefona para uma companhia e, menos de 48 horas depois, seu aparelho já está instalado e em funcionamento. Nada se cobra pela linha, há apenas uma pequena taxa de instalação. No Brasil, além dos preços das linhas que, em alguns casos, chegam a vários milhares de reais, a espera é muito grande e o consumidor pode ficar por anos e anos na fila.
Quando se considera que o mundo depende cada vez mais da transmissão de dados e informações por via telefônica, constata-se que conservar o monopólio equivaleria a condenar o país ao atraso.
Foi, portanto, uma vitória importante a aprovação da emenda em primeiro turno. O resultado, contudo, merece algumas considerações. Como era de se esperar, foi a votação mais apertada para o governo, que encontrou 140 deputados contrários ao fim do monopólio. No próprio PSDB, o partido de FHC, houve oito votos contra a proposta.
O governo teve ainda de lidar com três ameaças de chantagem. Uma do PMDB, que é governo, mas sempre ameaça votar contra o governo. Uma da bancada ruralista, que condiciona toda e qualquer votação a benefícios para o setor. E, por fim, os deputados amazônicos, que quiseram usar a votação para cobrar maior atenção do governo (leia-se verbas) para a região.
Dos grandes e médios partidos, há que se convir, apenas o PFL, de um lado, e o PT e o PDT, de outro, votam sistematicamente com coesão ideológica e partidária. De qualquer forma, a votação demonstrou que tão importantes quanto as reformas econômicas são mudanças políticas, para imprimir um pouco de ordem ao caos ideológico nacional.

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