São Paulo, domingo, 28 de maio de 1995
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caretas do Brasil

HELOISA HELVECIA

Tonheta herdou gestos ridículos do mateus-macaco e sofisticou-se no rigor técnico de seu criador. "Se faço o gesto e o andar, o personagem chega. Há um molde físico dentro de mim; à medida que eu o insuflo através da minha musculatura, ele começa a ter vida."

"Apetrechos fubentos"
Nóbrega faz também João Sidurino, ator ambulante que, junto com outra atriz mambembe, conta as peripécias do bufão em meio a "apetrechos fubentos" -como ele nomeia os panos desbotados do cenário. São personagens que dominam canto, dança, mímica, acrobacias. "Como não têm recursos materiais, partem da penúria maior, libertadora, e usam voz, corpo."
Depois de "Bandeira do Divino", o ator estreou "A Arte da Cantoria", também em Recife. Mesmo com "produção dificultosa" e trupe de 12 pessoas, conseguiu fim-de-semana em São Paulo, que rendeu convites.

Rosalina de Jesus
Em 82, o multiartista montou espetáculo sozinho, o "Maracatu Misterioso". Quase sozinho: recém-casado, convocou a mulher. Aqui a curitibana Rosane de Almeida, 31, entra na epopéia. Doze anos mais nova que o marido, começou aos 17, como "contra-regra-que-atua". Manipulava boneco, dançava dentro de boizinho, por aí.
Hoje, lapidada pelo "Pai" (como ela o chama), é a histriônica Rosalina de Jesus de "Brincante" e "Segundas Histórias". Rosane Rosalina não acha que seu mérito é de atriz.
"Meu orgulho é ter acreditado na loucura de criar um personagem, viver para isso. Parimos uma coisa."
Com ela, o ator divide palco, a administração do teatro Brincante e a educação dos filhos. Gabriel, 11, quer ser cientista, embora imite bem as micagens do pai. Maria Eugênia, 8, coleciona retalhos e cascas de banana. "Era bom que entrassem para a companhia", diz Nóbrega.
A história de Tonheta só foi desenrolada depois de Nóbrega ser notado no solo ``Reino do Meio-Dia", feito para o festival Carlton Dance de 1989. Passou a ser chamado pela mídia de coreógrafo, mesmo sem formação de balé clássico, nem moderno. Ganhou uma bolsa da Fundação Vitae (para atores e bailarinos). "Pude codificar uma linguagem gestual e corporal brasileira."
Nas pesquisas, privilegiou o corpo: se interessou por frevo, capoeira e pela maneira de dançar dos brincantes, os participantes de folguedos.

Arte é só isso
O teatro instalado há três anos num ex-pardieiro da Vila Madalena e subsidiado só pelo trabalho do casal não

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