São Paulo, domingo, 28 de maio de 1995
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``Malhação" é tão interessante quanto fazer ginástica

SÉRGIO DÁVILA
DA REVISTA DA FOLHA

``Malhação", que a Globo diz que não é novela, mas ``soap opera" (que quer dizer novela em inglês), chega ao primeiro mês com a sexualidade arrefecida. O Juizado chiou. Perde assim o principal atrativo, se não o único.
O ambiente não poderia ser mais adequado: uma academia de ginástica.
Enquanto fazem cem abdominais ou se esfalfam na bicicleta, os atores-modelos aprimoram interpretação e músculos. Não necessariamente nessa ordem.
Sem o molho da sensualidade adolescente, o resto ficou chato pra chuchu.
Assistir a ``Malhação" é tão interessante quanto passar o dia numa academia de verdade, com suas conversas inteligentes e seu ambiente propício à ficção. Deve ter quem goste -tem quem goste até de jiló.
Um dos atores principais é Mário ``suspiro" Gomes, sinta o drama. Ele já se deu bem fazendo papéis cômicos. Não é o caso aqui, em que lança mão da técnica franciscocuoquiana de atuação e apnéia.
Seu par é a boa Sílvia Pfeifer, também desperdiçada. Completam o quadro os veteranos John Herbert e Nair Belo. Deslocados é a palavra exata (alguém acredita na dupla, de collant, malhando?).
E os jovens, afinal o público-alvo desta ópera de sabão? Com exceção de Daniela Pessoa e Fernanda Rodrigues, prováveis futuros talentos, os atores-modelos são pouco mais que sofríveis.
Não seguram a trama. Ou as tramas, já que o que diferenciaria ``Malhação" seria a possibilidade de desenvolver uma história diferente a cada semana, com a mesma base.
Mas nem as tramas se seguram. A da semana passada, por exemplo, era o instigante teste que alguns alunos fizeram para um filme publicitário. De quebra, minutos longuíssimos foram gastos com uma gravidez indesejada.
Relaxe: não era de alguma adolescente perdida (nenhum adolescente de ``Malhação" parece ter problema mais sério que completar a série de steps imposta pelo professor). A grávida em questão é uma balzaquiana bem-resolvida.
É triste a comparação com ``Armação Ilimitada", da década passada. Foi o último programa criativo que a emissora fez para teens.
Tocava em pontos cruciantes da idade, como drogas e sexo, com humor e criatividade. (Mais que rima, o modelo ``Armação" seria solução.)
Incomoda bastante pensar que ``Malhação" representa uma transição natural da teledramaturgia global, da novela ao seriado.
Pela primeira amostra, esta transição parece partir de um modelo esgotado em direção à total idiotia. Sem ter passado pela inteligência.

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