São Paulo, segunda-feira, 29 de maio de 1995
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Futebol competitivo é uma praga maldita

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

O clássico, com o perdão da palavra, estava um saco. Um amontoado de jogadores no meio-campo sufocava a bola e a paciência das pouco mais de 8.000 almas penadas que se aventuraram ontem a ir ao Pacaembu, onde jogavam Corinthians e Portuguesa. Pô! -pensei cá comigo-, ambos já estão classificados mesmo, neste torneio safado que antecede à verdadeira disputa do campeonato. Nada têm a perder, portanto.
Logo, por que cargas d'água não aproveitam para jogar futebol? Ah, mas essa maldição do chamado futebol competitivo é uma praga que se embrenhou na alma dos nossos técnicos e jogadores, de tal forma que não há quem dela se livre.
Zap, pois, da TVA para a Globosat, em busca de um mínimo de emoção em Campinas, onde jogavam Palmeiras e Guarani. Pior: os dois times não só agrediam a bola, mas agrediam-se também mutuamente. É bem verdade que aqui houve pelo menos um lance de classe e tensão, quando Djalminha livrou-se de dois palmeirenses e tocou na saída de Velloso. Cléber conseguiu desviar a bola, pouco antes de sua passagem pela linha do gol. No ricochete da trave, Djalminha fuzilou para fora.
Só me restava, então, dar uma espiada na GNT, onde Flamengo e Vasco corriam atrás da bola. Aí melhorou: Maracanã cheio, bola rolando fagueira e gols em penca: 3 a 1 para o Fla, só no primeiro tempo.
Mas, aqui entre nós, nesse vaivém de canais, só lastimo não ter podido ficar na Rede Brasil. Ali a bola não rolava. Rolava, sim, um lance de irreprimível humor e fina inteligência: uma daquelas antológicas comédias dos Irmãos Marx.

Telê fez tudo certo, no sábado. Diante de um Novorizontino assombrado pelo fantasma do descenso, portanto disposto a tudo, Telê montou seu tricolor com três volantes. Assim, supriria, em parte, a falta de combatividade de Sierra pelo meio e a ausência de marcação adequada na sua lateral esquerda, ocupada, mais uma vez, pelo improvisado meia Aílton e por onde se movimentava o mais habilidoso atacante adversário, o ponta Alessandro. E assim foi durante todo o primeiro tempo, bocejante primeiro tempo. Noves fora, nada, o que era bom para o São Paulo.
No segundo tempo, atrás dos três pontos, Telê sacou o inútil Sierra e Mona, cuja extrema utilidade, naquelas alturas, já era redundante. E o tricolor, com Denílson e Palhinha em campo, ganhou luz e movimento. Denílson, com seus dribles desconcertantes, e Palhinha, com seus toques rápidos, incorporaram ao jogo Juninho e Bentinho, que até então eram obscuros figurantes.
Resultado: Júnior Baiano, numa trama bonita de quase todo o ataque, fez o gol que sugeria o início da goleada. Mera sugestão, pois o Novorizontino, até aquele momento abúlico, despertou e, numa só jogada, expôs a equação do cobertor curto do inimigo: um cruzamento da esquerda colheu Alessandro na área, escoltado por Aílton e pelo incansável Alemão, já cansado. Em um só ágil e inteligente gesto, Alessandro livrou-se de ambos e empatou o jogo perdido.
Foi o exemplo mais bem acabado de quando o certo dá errado.

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