São Paulo, segunda-feira, 29 de maio de 1995
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Livro conta a história e a glória do pop

BIA ABRAMO
DA REPORTAGEM LOCAL

Um volume de 862 páginas contém o melhor da história do pop. ``The Faber Book of Pop", editado pelos escritores Hanif Kureishi e Jon Savage e recém-lançado na Inglaterra, é uma monumental coletânea de nada menos que 158 textos sobre música pop.
A importância do livro não se detém no fôlego da empreitada. A tentativa, segundo Kureishi, é a de esboçar ``uma história alternativa do nosso tempo, contada do ponto de vista da música popular".
Kureishi, um observador de longa data do cenário pop inglês, assinou o roteiro de ``Minha Adorável Lavanderia" e ``Samie e Rosie" (os dois dirigidos por Stephen Frears). O ambiente de seu único romance traduzido no Brasil, ``O Buda do Subúrbio" (Companhia das Letras), está impregnado de signos da cultura pop, especialmente do punk inglês.
Savage, jornalista que atuou em publicações inglesas que estão entre as principais da área na Inglaterra, como a ``Melody Maker" e a ``The Face", escreveu a biografia oficial dos Kinks e ``England's Dreaming", uma aguda análise do punk e da história dos Sex Pistols.
Os dois organizadores -detalhe bastante significativo- nasceram no começo dos anos 50: Kureishi em 54, Savage em 53. Ou seja, eles viram de perto e amaram os Beatles, os Stones, David Bowie, Sex Pistols, Smiths etc.
A própria idéia de compilação de textos de origens e densidades diversas -são músicos, empresários, jornalistas, escritores, sociólogos que se debruçaram sobre fragmentos dessa história ``alternativa"- é, em si, pop. Os nomes selecionados não deixam dúvidas de sua pertinência.
Há Chuck Berry contando como compôs ``Maybellene", há o clássico ensaio de Colin MacInnes ``Pop Songs and Teenagers", Iggy Pop, Bob Dylan, Tom Wolfe, Hunter Thompson... Só para citar alguns. E dar água na boca.
O esforço de Savage e Kureishi se concentrou em sugerir uma divisão em fases históricas, um pouco diferente da imprecisa e tradicional por décadas. Para os editores, a história do pop começa já no imediato pós-guerra -e não no meio dos anos 50 (leia texto e veja quadro nesta página).
Bom lembrar que os editores chamam de pop simultaneamente uma indústria, um estilo de música, uma cultura e, de maneira mais vaga, uma sensibilidade. Uma sensibilidade fundada na ``emergência de um impulso momentâneo, mas poderoso: o desejo sexual adolescente", de acordo com Kureishi.
Na contracorrente da tendência atual de separar a música de massa em nichos de mercado, para Savage e Kureishi a música pop engloba tudo: rock, dance, rap, metal etc... Pop e rock nascem juntos e se separam nos anos 70 como gêneros para públicos distintos: rock para homens adultos brancos e pop para mulheres, negros, adolescentes e gays.
Para uma forma que, como assinala Kureishi no prefácio, ``implora para que não se escreva a seu respeito", a quantidade de informações e a diversidade das reflexões, opiniões e análises reunidas em ``The Faber Book of Pop" demonstra ``as coisas simples que você vê são todas complicadas". A frase, citação de uma canção do grupo inglês The Who, serve de título para o ensaio curto, mas esclarecedor de Savage.

Livro: The Faber Book of Pop
Preço: 16,99 libras (862 págs)
Onde encomendar: Livraria Cultura (av. Paulista, 2.073, tel. 011/285-4033)

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