São Paulo, segunda-feira, 29 de maio de 1995
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Kusturica vence o festival de Cannes

AMIR LABAKI
ENVIADO ESPECIAL A CANNES

Dez anos depois de levar a Palma de Ouro por "Quando Papai Saiu em Viagem de Negócios, o diretor iugoslavo (como ainda insiste) Emir Kusturica ficou pela segunda vez com o prêmio em Cannes (anunciado ontem) pelo filme "Underground.
Foi uma vitória justa. "Underground é uma longa e carnavalesca tragicomédia que conta os últimos 50 anos de história da ex-Iugoslávia do ponto de vista de dois espertalhões.
Aos 40 anos, Kusturica une-se assim ao restrito grupo de duplamente vitoriosos em Cannes, formado por Luchino Visconti, Francis Ford Coppola e Bille August.
A guerra civil a partir da fragmentação iugoslava contagia "Underground e também o vencedor do segundo prêmio principal, "O Olhar de Ulisses, do cineasta grego Theo Angelopoulos.
Mal-humorado, Angelopoulos afirmou na cerimônia de encerramento: "Tinha preparado um discurso para a Palma de Ouro. Agora, só posso dizer obrigado.
O filme mais premiado de Cannes-95, porém, foi "Carrington -estréia na direção do britânico Christopher Hampton, roteirista de "Ligações Perigosas.
Sensível e irônico, "Carrington levou o Prêmio Especial do Júri, criado extraordinariamente para contemplá-lo. Seu intérprete principal, Jonathan Pryce ("Brazil, O Filme), também foi premiado, pela composição do crítico literário Lytton Strachey.
Não foi só Kusturica que repetiu uma vitória em Cannes. A mesma honra coube à atriz inglesa Helen Mirren, que compõe a abnegada rainha Charlotte de "As Loucuras do Rei George. Ela fora premiada em 1984 pelo filme "Cal.
A forte presença francesa (quatro em dez) no júri presidido por Jeanne Moreau fez-se valer e exageradamente concedeu prêmios a dois dos três representantes da França na competição.
Há certo exagero, mas não escândalo, na concessão do prêmio de melhor diretor a Mathieu Kassovitz por "O Ódio, eficiente exercício de cinema-verdade sobre três jovens da periferia parisiense.
Um pouco demais foi dar o Prêmio do Júri a "Não Esqueça Que Você Vai Morrer, do francês Xavier Beauvois, um drama sobre um jovem estudante de arte (interpretado pelo próprio Beauvois) que se descobre soropositivo, e esquecer completamente "Terra e Liberdade de Ken Loach ou "Ed Wood de Tim Burton. É por isso que equilíbrio na formação de um júri é tão importante.

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sobre Cannes à pág. 5-4

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