São Paulo, quarta-feira, 31 de maio de 1995
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Déficit comercial passa de US$ 900 mi

CLÓVIS ROSSI; LUCAS FIGUEIREDO
DA REPORTAGEM LOCAL

LUCAS FIGUEIREDO
Estimativas da equipe econômica indicam que o Brasil importou mais de US$ 900 milhões do que exportou, no mês de maio.
São duas más notícias em um único número:
1) É o sétimo mês consecutivo de déficit comercial;
2) o déficit de maio duplica o de abril e eleva o resultado acumulado este ano a US$ 3,7 bilhões.
Desde a crise mexicana de dezembro, acumular déficits comerciais tornou-se pecado grave para os países em desenvolvimento.
Por isso mesmo, o governo havia fixado a meta de obter um saldo, em 95, de aproximadamente US$ 5 bilhões.
Agora, a meta foi revista. Mesmo sem aceitar que o déficit de maio tenha chegado aos US$ 900 milhões, a ministra da Indústria e Comércio, Dorothéa Werneck, diz que ``o número com que estamos trabalhando agora é entre US$ 2 US$ a 3 bilhões até o final do ano".
O pior é que a ministra admite não ter segurança quanto as causas pelas quais o déficit de maio duplicou o de abril.
``Não dá para saber exatamente nem o volume de déficit nem porque, eventualmente, o déficit aumentou", disse Dorothéa à Folha.
Essa declaração contradiz, em parte, as afirmações de seu colega da Fazenda, Pedro Malan, para quem os vilões da balança comercial foram: o aumento nas importações de combustíveis, devido à greve dos petroleiros, e os automóveis.
Dorothéa também cita esses motivos. Chega a calcular em US$ 200 a US$ 300 milhões o gasto adicional da Petrobrás com importações. Mas admite que são meras impressões, dado que o governo ainda não dispõe do número global de importações e exportações.
Se não tem o número global, menos ainda dispõe do detalhamento, que indicaria, este sim, as causas do crescimento do déficit em relação a abril.
Na indústria automobilística, também não há dados completos sobre as importações de maio.
Mas o presidente da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), Silvano Valentino, desconfia que não houve um crescimento nas importações.
``Minha sensação é a de que, depois da queda de 50% nas importações de abril, comparadas às de março, o nível se manteve", disse Valentino.
O ministro do Planejamento, José Serra, também atribui ``o que aconteceu em maio" a ``fatores atípicos" (mais importação de petróleo e de autos).
A forma ``o que aconteceu em maio" é utilizada para demonstrar que o governo não oficializa o déficit maior do que o de abril e menos ainda que tenha chegado aos mais de US$ 900 milhões apurados pela Folha.
O grave no número não é apenas o seu valor absoluto mas o fato de que o governo estimulara uma expectativa de déficits decrescentes, até que se atingisse o equilíbrio e, depois, resultados positivos.
Ontem, a uma pergunta sobre se não estava demorando demais para ocorrer a reversão nos resultados da balança comercial, Dorothéa respondeu simplesmente: ``Eu também estou achando".

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