São Paulo, quarta-feira, 31 de maio de 1995
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Julia Roberts e Kevin Bacon em ``Linha Mortal", no SBT

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

`Linha' desperdiça suspense
O cineasta brasileiro Carlos Reichenbach costuma defender o trabalho de Joel Schumacher, a quem credita, sobretudo, um uso apuradíssimo da tela larga.
Essa é uma virtude que, com certeza, não se verá na TV, onde as laterais do quadro se perdem miseravelmente. Em todo caso, pode-se supor uma generosidade exagerada nas qualidades que o brasileiro atribui ao americano.
Elas são perceptíveis em ``Um Dia de Fúria" (1993), aparentemente seu melhor trabalho. Mas, como justificar ``Linha Mortal" (hoje, à 1h50, no SBT) ou ``Tudo por Amor"(1991)?
``Linha Mortal" narra a história de um grupo de estudantes de medicina preocupados com a vida além da morte. Da teoria à prática, eles decidem usar as horas vagas para provocar paradas cardíacas uns nos outros. Depois ``ressuscitam" o freguês para saber o que se passou no além.
Há casos de fantasias absurdas que ganham verdade à força de convicção. ``Frankenstein" (1931, James Whale) é um deles. ``Linha Mortal" é um caso simples de miséria metafísica, que o fato de evocar velhos filmes de horror da Universal não desculpa.
Em ``Linha Mortal", existe apenas a condução correta do suspense: o que acontecerá com os personagens caso não se consiga ``ressuscitá-los"?
Para ser eficiente, seria necessário que o roteiro tomasse o cuidado de construir os personagens como pessoas empenhadas em violar a linha de separação entre vida e morte, entre humano e divino.
Como, porém, todo o caso é tratado como uma travessura estudantil, quando chega o momento do suspense, não temos nenhum interesse no destino dos personagens. Falta a eles a capacidade de vincular nossa imaginação à sua. E, se Schumacher mostra virtudes, joga-as fora no mesmo instante.
(IA)

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