São Paulo, quarta-feira, 31 de maio de 1995
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Balanço comercial

ANTONIO DELFIM NETO

Uma análise serena e objetiva dos resultados do balanço comercial nos primeiros quatro meses do ano desperta alguma angústia. O governo afirma que vai realizar um superávit comercial de US$ 5 bilhões, de tal forma que o déficit em conta corrente ficará em torno de US$ 10 bilhões a US$ 12 bilhões (alguma coisa parecida com 1,5% a 2% do PIB), que se considera perfeitamente financiável com a entrada de capital especulativo e volátil.
Há, entretanto, motivos para duvidar que isso possa ocorrer (tanto o superávit quanto o seu financiamento). A taxa de crescimento das exportações tem diminuído mês a mês (comparando as exportações de janeiro/abril de 1994 com as de 1995, o crescimento é de apenas 5%). Mas as taxas de crescimento das importações têm se mantido (as importações janeiro/abril de 1995 foram 94% superiores às de 1994).
As exportações até abril atingiram US$ 13,1 bilhões e as importações chegaram a US$ 15,9 bilhões, deixando um déficit de US$ 2,8 bilhões. Supondo que as exportações mantenham o mesmo ritmo, elas devem chegar em dezembro a alguma coisa parecida com US$ 46 bilhões. Ora, para produzir um superávit comercial de US$ 5 bilhões, seria preciso que as importações de maio/dezembro de 1995 chegassem a US$ 25,1 bilhões, exatamente o mesmo número das importações de 1994. Isso é, na margem, as importações não poderiam crescer entre maio/dezembro de 1995 comparadas com maio/dezembro de 1994.
É claro que isso talvez não seja impossível. Mas certamente é muito improvável. É fácil verificar que, se o crescimento das importações na margem de maio/dezembro for de apenas 20%, teremos o equilíbrio do balanço comercial. Mas é preciso lembrar que em janeiro/abril elas cresceram 94% com relação a 1994!
A tabela abaixo mostra o resultado do balanço comercial para as várias percentagens de crescimento das importações na margem maio/dezembro (com a exportação de US$ 46 bilhões):

Como toda previsão, essa também tem dificuldades enormes. Uma coisa, entretanto, parece certa: o resultado até agora garantido pelo governo é extremamente improvável na ausência de uma catástrofe com o nível de atividade, o que está fora de cogitação.
Os números mostram que, mesmo com uma importante redução do ritmo da atividade econômica (que reduz importações e libera produtos para a exportação) e com alguma correção cambial para aliviá-la, é pouco provável que haja superávit comercial. Isso significa que o déficit em conta corrente será superior ao déficit da conta de serviços menos as remessas unilaterais, alguma coisa parecida com US$ 15 bilhões a US$ 17 bilhões.

Antonio Delfim Netto escreve às quartas-feiras nesta coluna.

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