São Paulo, quinta-feira, 1 de junho de 1995
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Decisão de sair começou a ser tomada em março

GILBERTO DIMENSTEIN, VALDO CRUZ; FERNANDO GODINHO; GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A decisão anunciada ontem pelo economista Pérsio Arida, de deixar o Banco Central, começou a ser tomada em março deste ano. Ele ficou abalado com as acusações de que teria vazado informações a amigos antes de desvalorizar o real em relação ao dólar.
Nessa época, ela já havia comentado com o presidente Fernando Henrique Cardoso sua intenção de sair do governo. Apesar das acusações terem causado mal-estar dentro do Planalto, Arida acabou sendo convencido a permanecer, principalmente pelos amigos.
Ele ouviu que, deixar o BC naquele momento seria o mesmo que confirmar as denúncias de que teria vazado informações sobre a mudança na política cambial.
Mas, desde então, passou a refletir sobre a conveniência de continuar à frente do banco. Arida dizia, em conversas reservadas, estar desgastado com as divergências dentro de sua equipe e desentendimentos com o ministro Pedro Malan (Fazenda).
No último final de semana de abril ele tomou a decisão de sair do governo e a comunicou ao presidente. FHC ainda tentou mudar, mais uma vez, a posição de Arida, mas ele se mostrou inflexível.
Acertaram, então, que sua demissão seria mantida sob absoluto sigilo até que o seu substituto fosse anunciado oficialmente, o que aconteceu ontem.
O nome de Loyola começou a circular desde que Arida avisou a FHC que deixaria o governo. Ele aceitou o convite esta semana, liberando Arida para anunciar oficialmente a sua decisão.
Na intimidade, Arida dizia que não tinha projeto político. Portanto, acrescentava, não precisaria daquele cargo e mostrava-se aborrecido com as pressões diárias.
As pressões tinham as mais variadas fontes. Uma delas: o governador de São Paulo, Mário Covas, inconformado com a posição do BC sobre o Banespa. Covas recusava-se a conversar com Arida.
Ele tinha um difícil relacionamento com o diretor de Assuntos Internacionais, Gustavo Franco, com quem tinha divergências sobre a questão do câmbio.
Franco tinha o apoio explícito do presidente -FHC sentia-se agradecido a Franco pela arquitetura do Plano Real.
As pressões contra os juros altos cresceram e Arida chegou a reconhecer, há uma semana, que reduziu as taxas atendendo a pedidos da base governista no Congresso.
Arida também não absorveu totalmente o episódio das acusações sobre o suposto vazamento de informações. Na intimidade, lamentava que Malan não o tivesse defendido com ênfase, deixando-o entregue aos ataques.
(Gilberto Dimenstein, Valdo Cruz, Fernando Godinho e Gustavo Patú).

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