São Paulo, sexta-feira, 2 de junho de 1995 |
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Os porquinhos dão o maior susto no Lobão
MARIA RITA KEHL
Conheciam os grupos, as músicas, não perdiam nenhum programa de rock na TV. Além disso, eles tinham um ídolo em comum: o roqueiro Lobão. Sabiam as músicas de cor e tentavam acompanhar nos seus instrumentos: Prático na guitarra, Cícero na bateria e Heitor no baixo: ``Vida longa vida breeeeeve! Já que eu não posso te levaaar quero que você me leeeeve!" Um dia, eles viram na TV o programa do Rock in Rio. No meio dos nomes das feras do rock, estava o do Lobão. Ele ia se apresentar no palco! Os porquinhos nem pediram licença aos pais. Juntaram seus instrumentos, pegaram dinheiro economizado num cofre de homenzinho e correram para tomar o ônibus para o Rio de Janeiro. Quem gostou dessa farra foi o Lobo Mau. Ele viu os porquinhos no ponto conversando animados sobre o show do Lobão. Como tinha mais gente no ponto, ele não podia atacar. Correu para casa, vestiu uma peruca comprida, uma camiseta rasgada, óculos escuros, pegou um violão velho e conferiu no espelho: estava a cara do Lobão! Quando o Lobo Mau chegou ao ponto, os porquinhos já estavam entrando no ônibus. Assim que ele pisou no último degrau da porta, percebeu a sensação que sua fantasia causou: ``Olha o Lobão!!!", cochicharam os passageiros, principalmente Prático, Cícero e Heitor. Por sorte, tinha um lugar vago bem do lado dos porquinhos. Foi lá que o Lobo Mau se instalou. No começo, fingiu que não queria ser incomodado. Mas quando os porquinhos começaram a cantar os maiores sucessos do Lobão, ele se tocou. O Lobo Mau não conhecia nenhuma música daquelas. Era apreciador de música clássica e detestava rock. Então, ele tratou de puxar papo com os porquinhos. Disse que não podia cantar na viagem para não gastar a voz; que ele era um roqueiro rouco, mas não deveria ficar rouco demais, especialmente num megashow como o Rock in Rio. E teve que aguentar a homenagem desafinadíssima daqueles fãs: ``Tá tudo cinza sem você, tá tão vazio... me chama, me chama, me chama..." Quando estavam quase chegando ao Rio, o Lobo Mau teve uma idéia para ficar sozinho com o seu futuro jantar. Disse que tinha brigado com sua banda e convidou os porquinhos para tocar com ele. O ensaio seria atrás do palco, durante a apresentação de outros grupos. Os porquinhos deliraram. Naquele ano, os metaleiros é que estavam dominando o clima do Rock in Rio. Vaiavam os cantores que não fossem heavy. Cícero, Heitor e Prático entraram no estádio do Maracanã com um pouco de medo, mas a figura esquisita do Lobo Mau impôs um certo respeito. Foram para trás do palco, onde o Lobão de mentira preparava unhas e dentes para atacar os três fãs. Mas a programação do Rock in Rio atrapalhou os planos do Lobo Mau. O sistema de som anunciou a apresentação do roqueiro Lobão, o verdadeiro. ``É nossa vez!" Gritaram os três porquinhos ao mesmo tempo. ``Vamos lá!" ``Deve haver um engano, nós ainda nem ensaiamos!", disse o Lobo Mau, tentando arrastar os porquinhos para um lugar vazio. O Lobão roqueiro entrou no palco na hora em que o Lobão comedor de porquinhos ia dar o seu bote. Apavorados, os porquinhos pularam no palco com seus instrumentos da roça. Lobão levou um susto, mas os porquinhos já estavam começando a tocar. Naquele ano, os metaleiros vaiavam até o Lobão. Mas nessa hora, a reação do público virou: ``Ele trouxe uma banda de porcos!", gritavam os metaleiros. ``Que radical! Que animal!" Lobão aproveitou a maré boa e tocou com os porquinhos até o fim. Ninguém notou a desafinação, só os ouvidos do Lobo Mau, acostumado com Mozart e Beethoven. O sucesso foi tão grande que o Lobão convidou os porquinhos para integrarem a sua banda. No fim, até o Lobo Mau aproveitou alguma coisa de sua viagem ao Rio. Ele se apaixonou por uma Chapeuzinho Vermelho que encontrou na praia do Flamengo, e dizem que até hoje ainda não voltou de lá. Texto Anterior: Mostra de Bonecos no Sesc Próximo Texto: O roqueiro Lobão virou bonzinho Índice |
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