São Paulo, sexta-feira, 2 de junho de 1995
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'Duro de Matar 3' é refém do efeito especial

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DE CINEMA

Filme: Duro de Matar - A Vingança
Produção: EUA, 1995
Direção: John McTiernan
Elenco: Bruce Willis, Jeremy Irons, Samuel L. Jackson
Onde: a partir de hoje nos cines Comodoro, Metro 2, Gemini 2 e circuito

É normal os filmes se valerem de pistas falsas. São informações que levam o espectador a supor que esteja diante de uma determinada situação. Tempos depois, ele será surpreendido com outra informação, que contradiz a inicial.
No caso de ``Duro de Matar - A Vingança", o despiste é o próprio princípio do filme. Logo no início, somos levados a crer que o supervilão Simon (Jeremy Irons) está disposto a vingar-se de John McClane (Bruce Willis), responsável pela morte de seu irmão.
Chegando ao terceiro filme da série, McClane está suspenso da polícia, de ressaca e separado da mulher. É quando Simon faz saber que pode mandar metade de Nova York pelos ares, caso McClane não fique parado numa esquina do Harlem, vestindo um cartaz com a inscrição: ``Eu odeio negros".
O Harlem, como se sabe, é um bairro negro. Fazer isso significa linchamento. Mas McClane tem quase tanta sorte quanto o inspetor Clouseau, da série ``Pantera Cor-de-Rosa", e acaba salvo pelo vigoroso Zeus Carver (Jackson).
Com isso, o próprio Zeus acaba no embrulho e vira parceiro de McClane no jogo proposto por Simon. O jogo consiste em propor enigmas delicadíssimos, forçando McClane a se deslocar de um lado para outro em busca de solução. Se não encontrá-la, lá vem bomba.
Na verdade, o que Simon quer não é vingar-se, mas envolver a polícia em um engenhoso jogo de credulidade e, com isso, ocultar seu verdadeiro objetivo: um bilionário assalto a banco.
Mesmo levando em conta o parentesco com ``007 contra Goldfinger" (1964), sobre um assalto ao Fort Knox (onde ficam as reservas dos EUA), o despiste constante prendem o espectador.
No mais, Simon é um bom vilão. Seria mesmo sem Jeremy Irons para interpretá-lo. E, ainda que o roteiro jogue a lógica pela janela, tem todos os elementos para prender a atenção do público.
Isso, porém, não acontece inteiramente. Em parte, porque o espectador é submetido ao arsenal de praxe dos filmes ditos de ação: explosões, carros voando, pilhas de tiros, perseguições etc.
São as convenções do gênero, e é preciso satisfazê-las. Mas nem todos mostram-se tão submissos a ela. John Woo, cujo ``The Killer" continua em cartaz vale-se do expediente de saturar seus filmes com tanta violência que, no fim, ela termina anulada.
John McTiernan não tem esperteza, nem talento ou inteligência para tanto. Ele nos leva para perto do que mostram um ``Velocidade Máxima", ou séries como ``Máquina Mortífera", ou até os precedentes ``Duro de Matar".
É tanto cuidado dedicado aos tempos fortes que os personagens praticamente inexistem, não chegam a nos interessar e, portanto, a nos engajar no que acontece.
A partir daí, o novo ``Duro de Matar" é um refém de suas próprias bombas.

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