São Paulo, sexta-feira, 2 de junho de 1995
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O futuro, agora

Em todos os setores da economia o futuro é incerto. Em maior ou menor grau, o empresário que decide produzir ou investir, o consumidor que programa seus gastos ou planeja sua carreira, o agricultor que define uma opção de plantio lidam com hipóteses, apostam em cenários cuja confirmação depende da passagem de um tempo que não há como encurtar ou comprimir.
No coração da economia, porém, pulsam o sistema financeiro e sua complexa rede de operações e instrumentos que, a cada dia, hora e minuto, tentam antecipar o futuro.
As avaliações sobre o futuro oscilam com uma rapidez que beira a instantaneidade. O exercício da antecipação é contínuo.
Considerando-se a natureza desse ambiente, não é difícil aquilatar o grau de turbulência e nervosismo precipitados pela saída do presidente do Banco Central. Instabilidade que é maior ainda sendo Pérsio Arida economista de compromissos até radicais com um modelo de ajuste centrado na liberalização dos mercados, na privatização dos bancos estaduais e na desindexação completa da economia.
Extra-oficialmente há notícias de que o Banco Central, direta ou indiretamente, teria vendido ontem a quantia nada desprezível de US$ 700 milhões. Parece evidente que mais alguns dias de tamanho nervosismo poderão resultar na perda das reservas que o país voltava a acumular ao longo de maio.
A intensidade da corrida por dólares levou até alguns operadores a imaginar que a acumulação de reservas das últimas semanas tivesse como inspiração última preparar a própria saída de Pérsio Arida.
O fato, entretanto, é que a taxa cambial manteve-se relativamente estável ontem à custa de uma intervenção maciça do BC. E os mercados futuros sinalizaram ontem a ruptura da banda cambial em julho.
A troca de nomes trouxe portanto uma incerteza maior quanto à continuidade das regras do jogo. A especulação sobre novas substituições na equipe se propaga. É urgente que o governo atue com a maior clareza e contundência para apagar um incêndio futuro, agora.

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