São Paulo, domingo, 4 de junho de 1995 |
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Mulher deve vencer a guerra do trabalho
PAUL WALLACE
Mas será que essa aparente vitória na guerra econômica dos sexos está valendo a pena? Dois meses depois da vitória aliada na Segunda Guerra Mundial, em 1945, 2 milhões de mulheres deixaram a força de trabalho da Grã-Bretanha. Para cada mulher que trabalhava, havia dois homens -uma proporção que manteve-se estável durante 20 anos. Entretanto, vem ocorrendo outra desmobilização em massa da força de trabalho nos últimos 15 anos. Mais de 1 milhão de homens abandonaram seus empregos. Acrescente a esse número mais 1 milhão dos que estão à procura de um posto de trabalho. Resultado: a Grã-Bretanha detém um dos mais altos índices de desemprego masculino do Ocidente. Enquanto isso, começando em meados dos anos 60 e ganhando ímpeto nos últimos 15 anos, as mulheres vêm agarrando cada vez mais os empregos disponíveis. Resultado: hoje há apenas 250 mil homens a mais empregados do que mulheres na Grã-Bretanha. Não surpreende que muitos homens sejam vistos resmungando que as mulheres estão roubando seus empregos. Com seus salários ainda defasados -a remuneração semanal das mulheres representa 70% da dos homens-, as mulheres formam um exército de reserva, de mão-de-obra barata. Elas constituem as tropas de elite da tão falada ``força de trabalho flexível" dos anos 90. Mas há muito mais por trás disso. Os trabalhadores não-qualificados homens, em especial, estão sofrendo os efeitos da mudança para uma economia pós-industrial. O problema é que os empregos no setor de serviços tendem a favorecer as mulheres, assim como os empregos industriais tendem a favorecer os homens. A Grã-Bretanha não é o único país a vivenciar esse fenômeno. A OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) constatou, em todos os países desenvolvidos que ela monitora, que os empregos em setores como administração, alimentação, hotelaria e saúde são ocupados principalmente por mulheres. O economista Richard Freeman, da Universidade de Harvard (EUA), afirma que a proporção de mulheres empregadas no setor de serviços no país era alto no início do século. O que mudou foi que esse setor cresceu muito. No momento, o setor manufatureiro está mostrando um fortalecimento incomum. O número de empregos está crescendo, pela primeira vez, na década de 90. Mas, como a tecnologia pode substituir os postos de trabalho em fábricas mais facilmente do que em hospitais e escolas, é quase certo que os empregos futuros se concentrem no setor de serviços. Como esse deslocamento de uma economia industrial para uma economia de serviços é comum a todos os países avançados, a Grã-Bretanha não está sozinha no que se refere à extensão do trabalho feminino. Os EUA e os países escandinavos, como a Suécia, têm uma proporção ainda mais alta de mulheres na força de trabalho. O que diferencia a Grã-Bretanha desses países é que essa grande participação feminina é combinada com uma porcentagem especialmente baixa de mulheres que trabalham em período integral. Quase 50% dos empregos femininos são de meio período. E não é só isso. As mulheres apresentam uma tendência muito maior de entrar e sair de empregos hoje do que antigamente, segundo pesquisa da Sondagem Britânica de Lares de Família. Dados da OCDE mostram que as mulheres britânicas -comparadas com as de 18 países- recebem, em média, um pouco abaixo da metade do que ganham os homens. Só as mulheres suíças têm salários ainda menores. Tradução de Clara Allain Texto Anterior: Indústria farmacêutica cria centro de formação Próximo Texto: Consultorias já abordam tema Índice |
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