São Paulo, domingo, 4 de junho de 1995
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Micro luta para evitar 'quebradeira'

NELSON ROCCO
DA REPORTAGEM LOCAL

As medidas de contenção ao consumo do Plano Real não estão sendo ``camaradas" com micro e pequenos empresários.
Taxas de juros altos e clientes inadimplentes (sem pagar dívidas) estão obrigando empreendedores a negociar com os dois lados da moeda -clientes e fornecedores.
Essa correria tem apenas um objetivo. Evitar que suas empresas também quebrem.
Baixar a margem de lucro, evitar empréstimos de curto prazo e assumir compromissos que não possam ser honrados com venda de estoques são as recomendações de Sérgio Ferraz, 38, diretor da consultoria Price Waterhouse.
``O empresário pode dar um desconto de 10% para o cliente, receber à vista e não ser obrigado a pagar mais caro recorrendo aos bancos", afirma.
Planejamento é o conselho de Irani Cavagnolli, 50, diretor-superintendente do Sebrae-SP (Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de São Paulo) para empresas em dificuldades financeiras.
Segundo ele, seria danoso qualquer aumento de produção baseado em fatores que levem o empresário ao financiamento bancário.
Uma saída, segundo Cavagnolli, seria promover liquidações como forma de levantar o caixa.
Dados do DNRC (Departamento Nacional de Registro do Comércio), do Ministério da Indústria, do Comércio e do Turismo mostram que o fechamento de empresas em todo país está aumentando.
Em março, foram extintas 4.311 empresas -aumento de 30,9% sobre fevereiro (3.293).
Os requerimentos de falência também estão crescendo. Levantamento feito pela Folha, juntamente com o Fórum-SP, mostra que em maio houve 737 pedidos em São Paulo. Um salto de 70,2% sobre os 433 requerimentos de abril.
Joseph Couri, 43, presidente do Simpi (Sindicato da Micro e Pequena Indústria do Estado de São Paulo), recomenda a ``fuga dos juros altos", mesmo que se venda carros, telefones ou imóveis.
Couri diz que 47% das pequenas indústrias estão endividadas. ``Do total de indústrias, entre 30% e 35% estão inadimplentes ou atrasando o pagamento de fornecedores, impostos e salários", diz.
O vilão, além da política monetária do governo, segundo Couri, é o mercado financeiro. ``Microempresários estão pagando taxas de juros de até 18% ao mês para bancos, empresas de `factoring' (que compram dívidas) e agiotas."
Carlos Eduardo Uchôa Fagundes, diretor do Departamento da Micro, Pequena e Média Indústria da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), lembra que os empresários foram ``incitados" a aumentar a produção durante o ano passado.
Como resultado, afirma, as indústrias aumentaram a produtividade, não permitindo que faltassem produtos, e absorveram custos, contendo aumentos de preços.
Para Fagundes, desde janeiro ``o governo mudou as regras do jogo e a indústria está sendo forçada a cortar a produção e demitir funcionários" para não quebrar.
Segundo os especialistas, com o aumento das taxas de juros, as pequenas empresas passaram a não receber dos clientes, ficaram impedidas de recorrer ao desconto de títulos em bancos e acabaram com problemas de caixa.

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