São Paulo, domingo, 4 de junho de 1995
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Aracy Balabanian faz sucesso na pele da implacável Filomena

RONI LIMA
DA SUCURSAL DO RIO

Quando deixa as gravações de ``A Próxima Vítima", a atriz Aracy Balabanian sente o ``corpo moído". Esse cansaço físico é resultado do esforço que faz para extrair de sua personalidade o autoritarismo da durona Filomena, personagem que interpreta na novela global das oito.
A possessividade e o espírito dominador que caracterizam a matriarca da família Ferreto são, segundo Aracy, facetas minoritárias do caráter da atriz.
``Estou mais para uma mulher alegre, debochada, de farra", diz, comparando-se com a impagável dona Armênia, papel que interpretou com sucesso em 1990, na novela global ``Rainha da Sucata" (leia texto à pág. 4).
Apesar das ``diferenças" com Filomena, seu envolvimento com a personagem é tão grande que Aracy nem gosta de pensar no final da novela -muito menos em um eventual assassinato da chefona, contingência à qual todos os tipos da trama de Silvio de Abreu estão submetidos.
Essa forte ligação afetiva não é privilégio de Filomena: aconteceu com todos as personagens que Aracy criou ao longo de 38 anos de carreira no teatro e na televisão. ``São pessoas minhas, com as quais convivi. E com toda a certeza eu as amo."
A atriz diz que já perdeu a conta de quantas foram as suas criações, mas garante que todas elas ajudaram-na a se equilibrar emocionalmente.
``O trabalho do ator é uma dádiva de Deus", sentencia, frisando que o fato de poder viver vários personagens diferentes em uma só vida é fundamental para ``exorcizar fantasmas internos".
``Deixo minha personalidade a serviço do personagem e vou realizando minha catarse de vida. Acho que dá para dispensar até a análise", diz ela, que abandonou a sua em 1984, quando atuava em ``Boa Noite, Mãe".
Na peça da dramaturga norte-americana Marsha Norman, Aracy interpretava uma mulher que decide se matar. ``Eu botava meus demônios para fora", lembra.
Sobre Filomena, a atriz diz que, apesar da incompatibilidade de caráter que tem com a personagem, uma frase pronunciada pela mandachuva durante cena da novela tocou-a profundamente -e poderia ter saído de sua boca: ``A felicidade não é uma dádiva, é uma conquista".
Como Filomena, Aracy considera fundamental que as pessoas lutem por seus ideais. Foi o que fez ao ingressar na carreira artística contra a vontade do pai. E também há um ano, quando um incêndio destruiu seu apartamento e praticamente tudo o que havia dentro deste.
Aracy conta que, no início, veio a crise: o vazio de perder livros, roupas e o arquivo com os registros de sua carreira. Depois, com o apoio dos amigos, diz ter se sentido renovada, com vontade de continuar lutando.
``O fogo não conseguiu tirar minha força, minha coragem, meu trabalho e aquilo que conquistei: meus amigos", afirma. ``Fui e não olhei mais para o espelho retrovisor."
O trabalho, aliás, é chave essencial para entender a atriz, para quem tudo gira em torno da profissão. ``O trabalho é o meu primeiro e grande amor", resume.

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