São Paulo, segunda-feira, 5 de junho de 1995
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Carga é alvo nº 1 de gangues de SP

ELVIRA LOBATO; CLAUDIO JULIO TOGNOLLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Metade dos roubos de carga registrados no Brasil acontece na Grande São Paulo, em plena luz do dia. Diariamente, pelo menos dois caminhões são capturados em vias movimentadas da cidade.
As quadrilhas agem como organizações empresariais sofisticadas e conseguem infiltrar espiões até em multinacionais. Em horas, as mercadorias são recolocadas no comércio, com notas fiscais de empresas fantasmas (de fachada).
O roubo de carga, como crime organizado, é recente no Brasil. Segundo as transportadoras, em 1992, foram roubadas US$ 8,2 milhões em mercadorias em São Paulo. Em 93, saltou para US$ 43 milhões e no ano passado chegou a US$ 85 milhões -um aumento de mais de 900% em quatro anos.
No final de abril, 15 homens invadiram a indústria de medicamentos Eli Lilly, no Morumbi (zona sul). Era domingo e 50 operários e seguranças foram obrigados, sob a mira de armas, a carregar três carretas com remédios.
Segundo o diretor de recursos humanos da Lilly, Marco Aurélio Teixeira, a quadrilha tinha um informante entre os 16 homens que faziam a segurança da fábrica.
O esquema só foi descoberto porque um dos caminhões foi interceptado na divisa de São Paulo com o Paraná e o motorista foi preso. O resto da carga foi abandonada pela quadrilha.
``Para interceptar essas quadrilhas há que se trabalhar mais com informações do que armas. São organizadíssimos", diz Pedro Paulo Negrini, diretor do Cadastro Nacional de Veículos Roubados.
Segundo depoimentos de transportadores de carga e de seguradores, as quadrilhas se especializaram e quando agem já têm comprador certo para a mercadoria.
Os produtos mais visados são os cigarros, medicamentos, tecidos, pneus, calçados, carne, autopeças e eletroeletrônicos. Segundo dados da Polícia Civil, em 93, a Souza Cruz teve 31 carretas e 282 kombis assaltadas. A empresa não dá declarações sobre o assunto.
Com a explosão do roubo de carga, a maioria das seguradoras saiu do mercado (só 10% fazem seguro de carga). Na semana passada, o Instituto de Resseguros do Brasil aumentou o custo do seguro em 50% e impôs uma franquia de 30% nos produtos mais visados.
Significa que nos roubos de medicamentos, por exemplo, as transportadoras de carga só receberão 70% do valor da carga. O aumento do seguro foi repassado para o preço do frete.
As corretoras de seguro criaram departamentos de investigação mais sofisticados do que os da própria polícia.
A corretora Pamcary tem uma diretoria de Operações Especiais, com 300 funcionários (50 investigadores), comandados pelo coronel aposentado do Exército Antônio Carlos Dick.
Segundo o coronel, a Pamcary possui um cadastro em computador de 470 mil motoristas de caminhão e de 101 mil suspeitos de serem ladrões de carga.
A corretora só garante o seguro de uma carga depois de checar o histórico do motorista.
Dick afirma que o roubo de carga é o crime mais bem organizado do momento e as quadrilhas têm três níveis hierárquicos: assaltante, receptador e distribuidor.
Os assaltantes recebem 30% do valor da carga. Eles têm acesso ao receptador, mas não conhecem o distribuidor.
Segundo Dick, o distribuidor é o elemento mais importante da indústria do roubo, porque é ele quem emite as notas fiscais que dão cobertura à mercadoria e recoloca o produto no comércio.

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