São Paulo, segunda-feira, 5 de junho de 1995
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Prévia de Cannes traz p&b e efeitos especiais

NELSON BLECHER
DA REPORTAGEM LOCAL

O velocista Carl Lewis caminha como Moisés sobre as águas. Uma formiga que convalesce no hospital tem pesadelo com uma marca de inseticida. Uma jovem misteriosa seduz um motorista de táxi em Nova York.
São roteiros de comerciais internacionais que disputarão, a partir do dia 19, o Festival Internacional do Filme Publicitário em Cannes. Foram exibidos, semana passada, para uma platéia de publicitários e jornalistas especializados.
Era previsível. ``A Lista de Shindler", de Spielberg, continua rendendo filhotes na propaganda. Estoque considerável dos concorrentes aos leões de Cannes é na versão preto e branco.
Entre eles o que se sagrou vencedor da amostra de mais de 200 filmes avaliada por um júri especializado convocado pela revista ``Propaganda".
Intitulado ``Drugstore", o comercial -impecável na reprodução de uma típica cidadezinha americana dos anos 50- foi criado pela agência BBH, de Londres.
As câmeras do diretor Michael Gondry percorrem em ritmo quase de câmera lenta as instalações e os rostos dos fregueses de uma loja onde um adolescente compra ``látex", o preservativo sem marca da época, acondicionado em um estojo de lata.
Acomoda a embalagem discretamente no bolso da calça, monta num conversível e segue para a casa da namorada, onde se confronta com o pai fera da donzela. Nenhum diálogo, só música suave de fundo.
A Levi Strauss tem surpreendido Cannes nos últimos três anos com uma série memorável para mostrar que as calças da marca são testemunhas da história desde o século passado.
É dessa marca outro comercial brilhante: jovem e atraente mulata entra em um táxi amarelo. O motorista observa atento pelo espelho retrovisor. Ela retira objetos femininos. Penteia-se e se maquia. O motorista, palito entre os dentes, excita-se a cada gesto -até que a passageira começa a se barbear e revela a identidade de travesti.
O rolo traz também humor escrachado à italiana. Na tentativa de acalmar os berros de um casal de vizinhos, um homem, concentrado em sua leitura, encomenda flores.
A mulher recebe extasiada o ramalhete, mas o sossego ainda não chegou para o vizinho. Reconciliado, o casal vai transar, sob ruídos das molas enferrujadas do colchão.
No capítulo efeitos especiais, é modelar o comercial da Pirelli estrelado pelo velocista Carl Lewis, que corre sobre as águas, escala a estátua da Liberdade e dá um descanso para conferir a sola do pé...transformada em pneu.
A cada ano cresce o domínio dos publicitários sobre efeitos gerados por sofisticados computadores, utilizados para compor uma atmosfera onírica e de dimensões surrealistas: uma estrada de ferro corta escritórios, homens que ganham asas de anjo, um enorme cubo de gelo no deserto...
Já os produtos dos anunciantes que, afinal, pagam as contas, são meros coadjuvantes, sutilmente sugeridos ao telespectador.
Quem tem aproveitado de forma competente esses recursos é a CCA, a agência norte-americana da Coca-Cola, que produziu inovadora linha de metapropaganda.
No comercial exibido, uma tampinha do refrigerante é transformada em um pêndulo semelhante aos usados por hipnotizadores. Ao fundo, aparelhos de TV ligados emitem ordens. (Nelson Blecher)

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