São Paulo, terça-feira, 6 de junho de 1995
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Maluf nega ter aumentado dívida de SP

CLAUDIO AUGUSTO
DA REPORTAGEM LOCAL

O prefeito Paulo Maluf negou que, em sua gestão, a dívida da cidade tenha crescido 76% contra 36% de aumento das receitas. ``O município desfruta hoje de excelente situação financeira, depois de ser sido quebrado pelo PT."
Ele apresentou números diferentes dos obtidos pela Folha na Câmara Municipal -enviados pela Secretaria Municipal das Finanças-, segundo os quais a dívida da prefeitura saltou de R$ 1,8 bilhão para R$ 3,1 bilhões. A seguir, trechos da entrevista.

Folha - A dívida da prefeitura cresceu mais que a receita?
Paulo Maluf - Parece que a Folha encampou os dados do Paulo Sandroni (presidente da CMTC na gestão Erundina). Seria bastante interessante que o sr. Sandroni, antes de emitir pareceres falsos sobre a prefeitura, explicasse por que se calou sobre a grande roubalheira que a administração petista fez na própria CMTC. Por que ele se calou quando foram comprados US$ 35 milhões em arruelas sem concorrência pública? Quanto ao endividamento, eu não emiti sequer um real de títulos novos.
Folha - O sr. emitiu títulos em 93.
Maluf - Herdei a emissão pedida pela Erundina. Eu, mesmo autorizado pelo Senado em 94, não emiti um real.
Folha - Por que o sr. pediu para emitir R$ 600 milhões?
Maluf - Eu não quis endividar a prefeitura. Tenho autorização e não emiti. O lide certo da matéria seria: ``Maluf tem gestão financeira austera". Em 92, a relação entre o endividamento da prefeitura e a arrecadação era 1,06% e hoje é 0,86%. Portanto, a relação entre dívida e arrecadação melhorou muito. A gestão anterior não pagava as dívidas da Cohab junto à Caixa Econômica Federal e não computava essas dívidas no orçamento, como se elas não existissem. Nós estamos honrando essas dívidas. A arrecadação elevou-se em 83,9%, enquanto a dívida cresceu 48,9%. Agora, é bom que se diga que o crescimento da dívida não tem relação com a emissão de novos títulos. O crescimento se deu única e exclusivamente por causa do custo financeiro, que onera tanto a dívida interna do governo federal como a dos Estados e municípios. O déficit orçamentário, de 18% em 92, foi reduzido para 8,6% em 94. Hoje, a prefeitura mantém rigorosamente em dia seus compromissos, o que lhe permite obter expressivas reduções de custo unitário dos serviços e obras que contrata. É igualmente falso que a atual gestão privilegia grandes obras em detrimento da área social. Desde o início deste ano, empregaram-se R$ 581,5 milhões na área social, contra R$ 412,1 milhões para vias públicas. O município desfruta hoje de excelente situação financeira, após ter sido quebrado pelo PT.
Folha - Os dados que a Folha obteve são da Secretaria Municipal das Finanças. O Banco Central confirma. Por que os dados não estão batendo?
Maluf - Essa afirmação é falsa. Vocês dizem que existe paralelo entre a gestão Quércia e Fleury e a minha. Isto é mentiroso, parcial. A Folha, neste aspecto, está de rabo preso com a mentira.
Folha - O sr. está usando dinheiro de títulos em obras?
Maluf -Não.
Folha - Então, por que houve pedido de nova emissão?
Maluf - Porque nós estamos gastando, só na Faria Lima, US$ 150 milhões. É preciso gastar mais US$ 100 milhões na Jacu-Pêssego (obra viária na zona leste). Estamos gastando na Água Espraiada (canalização de córrego na zona sul). Agora, o fato de termos pedido e não termos gasto demonstra com que austeridade a gente leva as finanças públicas.
Folha - E a educação?
Maluf - O professor estadual se aposenta com R$ 1.226,00. O municipal, com R$ 1.743,00. Não veja nisso uma crítica ao governador Mário Covas. Ele está pagando aquilo que pode. Se nós estamos pagando mais, é porque estamos com as finanças em dia. Quanto às escolas, 95% delas estão boas.
Folha - O sr. é acusado de apostar no caos da rede para viabilizar a aprovação do PAS (Plano de Atendimento à Saúde).
Maluf - Sabe, quem me acusa é o doutor Tito Nery (presidente do sindicato dos médicos). A última informação que corre é que ele tem emprego na prefeitura, emprego na CMTC, tem o seu consultório particular e é o presidente do sindicato. Eu gostaria de saber a qual emprego ele se dedica.
Folha - O Ministério Público também entrou na Justiça.
Maluf - O que se discute é se o Maluf deveria ter feito o PAS por projeto de lei ou decreto. A mim me espanta o absurdo de que agora os médicos estão discutindo a Constituição. Quando os médicos têm que estar no plantão para impedir que senhoras passem cinco horas na fila e tenham seus filhos com desidratação não atendidos, como eu vi.
Folha - É o sr. que tem que impedir isso.
Maluf - Eu não sou policial. Cada médico deve saber como exercer a sua função. Nós vamos mudar o modelo, que está falido.
Folha - A Secretaria da Cultura está privilegiando os eventos em detrimento de uma política cultural mais consistente?
Maluf - A pergunta é facciosa. O melhor secretário de Cultura do Brasil é o Rodolfo Konder. É um homem correto. A cultura é tratada sem pretensões político-partidárias. Antes, as verbas da cultura eram para cupinchas. Um projeto para um cinema espacial: R$ 20 milhões. O que foi feito? Um relatório de três páginas para o Tribunal de Contas e os reais no bolso.

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