São Paulo, terça-feira, 6 de junho de 1995 |
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TV Cultura não quer mais pagar orquestra
ARMANDO ANTENORE
``É um contra-senso, uma anomalia administrativa que perdura desde 1989 e que agora se tornou insustentável, por causa da crise financeira que estamos atravessando", diz Renato Bittencourt, 60, presidente interino da fundação. Há duas semanas, o governo estadual decidiu reduzir em quase 40% as verbas que destina à entidade. Dos R$ 57 milhões previstos para este ano, vai repassar somente R$ 35 milhões. A escassez de dinheiro provocou a demissão de 250 dos 1.671 funcionários que recebem pela fundação. Outras 150 dispensas deverão acontecer ainda em junho. Os cortes afetam apenas a rádio e a televisão. Embora pague os músicos, a fundação não tem autonomia para alterar os quadros da orquestra. Os salários dos 98 instrumentistas totalizaram R$ 117 mil em abril. ``Não podemos mais arcar com custos alheios. Estamos brigando para que o governo tire a orquestra dos nossos ombros", afirma Bittencourt. Jorge da Cunha Lima, 63, que assume a presidência da Fundação Padre Anchieta no próximo dia 12, segue o mesmo raciocínio: ``Em tese, não acho inadequado que a Cultura responda pelos salários da Osesp. Funciona assim na Inglaterra, França e outros países da Europa, onde emissoras públicas de rádio e televisão possuem orquestras. O problema é que a falta de dinheiro nos coloca em uma situação limite. Entre manter um programa no ar e pagar os músicos, ficamos com a primeira alternativa." O maestro Eleazar de Carvalho, 83, regente titular e diretor artístico da Osesp, rejeita as reclamações. ``A orquestra só não presta serviços à Cultura porque a fundação nunca os reivindica. Todas as segundas-feiras, realizamos concertos gratuitos em São Paulo. Por que a televisão não os transmite?" Na verdade, já os transmitiu. Em 1980, quando um decreto do governo estadual atrelou a orquestra à fundação, a TV Cultura costumava exibir os concertos semanais. Deixou de fazê-lo com o tempo. Em 1989, outro decreto estadual anexou a Osesp à Universidade Livre de Música (ULM). Começou, então, o que Renato Bittencourt chama de ``anomalia administrativa". A maioria dos músicos continuou recebendo pela fundação ``em caráter transitório" porque a ULM não tem condições de bancar os salários de toda a orquestra. O Tribunal de Contas do Estado acusou o problema no dia 23 de agosto de 1993. Depois de analisar a contabilidade da Fundação Padre Anchieta, emitiu parecer com ``recomendação expressa" para que a ``situação funcional dos integrantes da Osesp" seja regularizada. Texto Anterior: Jorge Mautner exibe o filme `O Demiurgo' em show único Próximo Texto: Fabulosos Cadillacs fazem rock degenerado Índice |
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