São Paulo, terça-feira, 6 de junho de 1995
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Apenas um caso de polícia

LUIZ CAVERSAN

RIO DE JANEIRO - O ex-policial e agora senador Romeu Tuma (PL-SP) publicou artigo em ``Tendências/Debates" ontem. O tema era de seu amplo conhecimento -a polícia.
Mas ao enveredar por críticas, ora óbvias, ora apenas superficiais à problemática polícia do Rio de Janeiro, o senador simplesmente esqueceu de se incluir ou pelo menos de incluir a Polícia Federal -instituição que dirigiu durante quase uma década- entre os responsáveis pelo caos.
Em seu texto, Tuma alega que tudo o que se pode fazer no combate à criminalidade está circunscrito à ``técnica policial". Aponta, como chave da questão, o combate prioritário à corrupção e ao despreparo profissional.
Até aí nada de novo. O surpreendente é que Tuma deixou de relacionar a causa principal do envolvimento policial com o crime: o comércio de drogas e armas.
O Rio de Janeiro não produz armas, tampouco cocaína. Ambos chegam ao país em contrabandos vultosos, que de uma maneira ou de outra transpõem sem problema as fronteiras do país e também do Estado.
Se as armas e as drogas aqui chegam é porque a Polícia Federal não impede. E quem hoje prega que tudo se faça nos limites da técnica policial estava, entre 85 e 93, no comando da PF.
O último superintendente regional da PF no Rio sob o comando de Tuma foi o delegado Edson de Oliveira, que sempre alegou falta de recursos materiais e humanos -além da cômoda desculpa segundo a qual segurança pública é questão estadual- para justificar a inoperância da instituição.
Agora continua tudo igual, com um agravante, que coloca sob suspeita qualquer dos argumentos de Oliveira: semana passada o Ministério Público denunciou o delegado -denúncia aceita pelo juiz- sob acusação de corrupção, por recebimento de propina do jogo do bicho.
Por tudo isso fica muito, muito estranho o atual senador Tuma cobrar um procedimento que ele próprio não seguiu.
Foi justamente nos últimos dez anos que o Rio de Janeiro assistiu impotente armas e drogas pesadas proliferarem intensamente. Nesse tempo, Tuma estava lá, em Brasília, na direção de quem deveria combater esse crime terrível. Por que não o fez? Ou, se fez, por que não resolveu o problema? Afinal, como ele mesmo diz, trata-se apenas de ``um caso de polícia".

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