São Paulo, quinta-feira, 8 de junho de 1995
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Críticas à curadoria marcam abertura

DANIEL PIZA
ENVIADO ESPECIAL A VENEZA

Já está aberta para a imprensa a 46ª Bienal de Veneza (Itália). A abertura para o público é no domingo. Discursos e Vernissages são acompanhados por uma bateria de ruidosas críticas à direção da Bienal deste ano, a cargo do crítico e curador francês Jean Clair, 55. A Bienal está comemorando cem anos.
O protesto é contra o cancelamento do ``Aperto". A mostra jovem de artistas com menos de 35 anos que costumava ser o centro das atenções estéticas e das polêmicas jornalísticas.
A insatisfação é tal que uma série de museus e instituições européias organizou, para este mesmo mês de junho, um conjunto de exposições jovens que recebeu o título geral de ``Aperto 95".
O ``Aperto 95" se espalha por diversas cidades do continente, em centros razoavelmente importantes como a Appel Foundation de Amsterdã (Holanda), o Palais Des Beaux Arts de Bruxelas (Bélgica), o Kunstraum Wien de Viena (Áustria) e o Museu de Arte Moderna e Contemporânea de Genebra (Suíça).
São cerca de 20 espaços dedicados ao ``Aperto 95", cada qual exibindo arte atual de seu país. A iniciativa quer tanto chamar a atenção que se refere a si própria como ``salão dos recusados", lembrando o ``Salon des Refugés" que fundou o impressionismo em 1865 -quando se reuniram as obras recusadas pelo ``salão oficial" francês por academicismo insuficiente.
É como um conservador, comprometido com uma visão passadista da arte, que os organizadores de ``Aperto 95" querem que Clair passe à história da Bienal.
Clair não só extinguiu o ``Aperto" como também desviou a importância das representações nacionais (das quais o Brasil participa com obras de Nuno Ramos e Arthur Bispo do Rosário) para a grande exposição histórica que concebeu para o centenário ``identidade e alteridade", uma história da representação do corpo e do rosto pela arte desse século.
``A Bienal existe para mostrar o que está sendo feito hoje, e não ontem", disse à Folha Roberto Daolio, diretor da Galeria de Arte Moderna de Bolonha (Itália), uma das participantes do ``Aperto 95".
``O `aperto' era fundamental", continuou. Seria mais interessante que a Bienal organizasse um grande `aperto' neste centenário, para mostrar a arte do futuro".
O diretor da última edição da Bienal, o italiano Achille Bonito Oliva, concorda. Escreveu um texto venenoso na revista ``L'Espresso" do início de junho contra o cancelamento do ``Aperto". Oliva diz, sem nomear, que Clair é um crítico sem ``flexibilidade de espírito", porque acostumado a ver a arte como história.
Oliva diz também que o ``Aperto" era uma ``vitrine da arte contemporânea" e que fechar essa vitrine sugere a imposição do ``turismo de massa -porque os turistas se sentem mais atraídos pela arte passada, segundo Oliva, do que pela atual.
Clair justifica o cancelamento do ``Aperto" com três motivos. O primeiro: ele só fazia separar os artistas jovens num ``gueto" em vez de integrá-los à exposição central. Segundo, não havia revelações consistentes nele, porque a ideologia do tema suplantava a democracia da escolha. Terceiro: falta de tempo. Clair teve um ano para organizar o evento e preferiu concentrar esforços na exibição centenária.

O jornalista DANIEL PIZA viajou a convite da Varig.

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