São Paulo, sexta-feira, 9 de junho de 1995
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Negros querem resgatar a sua cidadania

FERNANDA CIRENZA
EDITORA DE SUPLEMENTOS

O negro brasileiro procura o resgate de sua cidadania e diferentes estratégias de luta vêm sendo desenvolvidas para cumprir esse objetivo. Nessa busca, divergências -e até intolerâncias- marcam as próprias organizações negras.
Esse é o resultado do debate ``O movimento negro hoje", realizado em 30 de maio pela Folha, onde cerca de cem pessoas assistiram ao evento.
Participaram como debatedores Helio Santos, pesquisador do Núcleo de Estudos Interdisciplinares do Negro Brasileiro da USP (Universidade de São Paulo), e Fernando Conceição, coordenador do Núcleo de Consciência Negra e do Movimento pelas Reparações dos Descendentes Africanos Escravizados no Brasil.
Também estiveram na mesa como debatedores João Jorge Santos Rodrigues, diretor de cultura do grupo baiano Olodum, e Sueli Carneiro, diretora do Geledés -Instituto da Mulher Negra. O mediador do encontro foi o jornalista Otávio Dias, da Folha.
Para Helio Santos, um dos desafios para o resgate da cidadania é mostrar o peso político da população negra.
``Somos 65 milhões de pessoas e não é justo exigir do movimento negro a eficácia requerida para promover grandes avanços sem o apoio de aliados diferenciados."
Fernando Conceição discordou. ``Acredito em uma ruptura. Proponho que os descendentes de negros escravizados sejam indenizados pelo trabalho gratuito de seus ancestrais."
Segundo seus cálculos, cada descendente tem direito a receber US$ 102 mil. ``Exigimos uma série de políticas compensatórias que o Estado tem que fazer para socorrer esses descendentes de africanos escravizados no país."
Conceição também criticou o grupo Olodum. ``Na Bahia, o movimento negro se transformou num movimento culturalista que bota os neguinhos para tocar tambor."
Para o diretor de cultura do Olodum, Conceição tem uma longa tradição de ser ``franco atirador" contra entidades populares na Bahia. ``Ele teve que vir para São Paulo na tentativa de fazer isso aqui", disse João Jorge.
O Olodum, segundo ele, é uma entidade autônoma. ``O nosso estilo é implacável porque aprendemos a combater aqueles que não querem fazer nada."
Sueli Carneiro afirmou que o movimento negro vive um ``momento de otimismo" devido aos intercâmbios que começam a surgir entre organizações negras e da sociedade civil.
Segundo ela, Conceição está na ``contramão do espírito coletivo de luta pela cidadania". Sueli disse ainda que a tese das reparações é legítima. ``Nós somos um povo espoliado e este país tem a maior dívida interna com a população negra."
Mas ela acha que a luta pelas reparações não pode ficar limitada a US$ 102 mil. ``É barato demais. Pior que barato, não tem preço que pague a opressão sofrida por nós durante quatro séculos."

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