São Paulo, sexta-feira, 9 de junho de 1995
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Futebol paulista está andando para trás

WALTER CASAGRANDE JR.
ESPECIAL PARA A FOLHA

A forma absurda como está sendo disputado o Campeonato Paulista, sacramentada na reunião de segunda-feira na Federação Paulista, mostra que o futebol de São Paulo atingiu seu pico de interesse nas últimas temporadas e, agora, começa a descer a ladeira.
A temporada 95 tem sido fraquíssima em emoção, expectativa e público. Com razão.
É um absurdo jogar 240 jogos, em quase quatro meses, para depois chegar-se à conclusão de que tudo não valeu nada. Sim, porque, na prática, o campeonato começa agora. O bom desempenho do São Paulo e da Portuguesa no primeiro e no segundo turnos não colocou os times como cabeças-de-chave no octogonal. Valeu um critério esquisito: as rendas dos últimos 13 anos.
O que foi ganho com as dezenas de clássicos jogados até agora? Também nesses jogos importantes houve menos vibração do que era de se esperar. E a decisão de fazer a vitória valer três pontos diminuiu o interesse pelo ponto extra. O que é um pontinho diante dos tantos que ainda estão por disputar? Até o grande clássico de domingo, entre os dois times com melhor campanha, perdeu parte do atrativo.
Há outros problemas. A confusão na hora de dividir os times nos dois grupos para o octogonal é consequência da má elaboração do regulamento como um todo. Não há dúvida de que o campeonato perde credibilidade ao ter as regras da fase final definidas no meio da disputa.
O melhor é deixar os critérios bem claros logo no início e deixar a bola correr. Estão fazendo do futebol um grande negócio, querendo dirigir o campeonato para conseguir mais dinheiro. Só que isso acaba prejudicando o próprio futebol.
Mais: tivemos tantos jogos sem valor e agora, na hora da decisão, os grandes clubes podem ficar sem seus principais jogadores, por causa da Copa América e da duração excessiva do Paulista. Isso sem falar na crise dos estádios. Que falta faz o Morumbi!
Sou a favor de jogar por pontos corridos. Mas, como no Brasil todo mundo está acostumado às grandes finais, poderíamos adotar uma fórmula mista. Algo como pontos corridos para definir o campeão do primeiro turno e o do segundo, que jogariam entre si na decisão. Isso manteria o interesse em todos os jogos e ainda garantiria a emoção da final.
O futebol paulista tem que reagir, pois está andando para trás. Antes, todo jogador queria atuar em São Paulo -a melhor vitrine do Brasil, de onde saíram recentemente o Palmeiras bicampeão brasileiro e o São Paulo bicampeão mundial.
Agora, é o futebol paulista que vê seus craques querendo ir para outros lugares, especialmente o Rio.
Apesar de todos os problemas e críticas, o Estadual do Rio tem dado certo e, infelizmente, mostra mais atrativos que o Paulista.
É hora de parar para pensar. Afinal, a paciência do torcedor tem limite.

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