São Paulo, sexta-feira, 9 de junho de 1995
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'Inexplicações'

WILSON BALDINI JR.

Nenhum boxeador sabe melhor promover sua carreira que o inglês Frank Bruno. Aos 33 anos, ele vai tentar dia 21 de julho, pela quarta vez, o título mundial dos pesados, contra Oliver McCall.
Bruno é considerado pela imprensa especializada como um dos maiores perdedores do boxe em todos os tempos. Pois vejamos.
Em julho de 86, em pleno estádio de Wembley, Frank Bruno foi escorado pelo juiz do combate para não cair de cara no tablado, após ser massacrado pelo gordinho Tim Whitherspoon, nos 11 roundes de luta.
Mesmo depois desta derrota, e enfrentando fracos adversários, em dois anos, lá estava ele de novo na primeira colocação do ranking.
Outra chance. Contra Mike Tyson, em fevereiro de 89. Derrota por nocaute, no quinto round.
Mas ele não se deu por vencido e, há dois anos, surgindo do nada, Bruno fez o clássico confronto inglês diante de Lennox Lewis.
Mesmo contra o inexpressivo Lewis, o ``queixo de vidro" não resistiu. Queda no sétimo round.
Por que Bruno tem nova chance? Inexplicável.
Bruno não é o único. O pesado Lionel Butler disputou a eliminatória do CMB com Lennox Lewis ostentando grandiosas 10 derrotas em seu currículo de 33 combates.
Já com o supergalo Tracy Patterson é compreensivo. Filho adotivo de Floyd Patterson, ex-campeão do mundo dos pesados, ele acumulou vitórias e dinheiro batendo em lutadores limitados. Limitados como foi seu pai.
No primeiro combate mais duro, o protegido não resistiu e perdeu. Orlin Norris, Bernard Hopkins, Egertun Marcus são outros pugilistas superestimados pela imprensa e pelos empresários.
Mas existem os subestimados. São os boxeadores sem sorte. A sorte é soma da competência com a oportunidade. Eles têm competência, mas falta a oportunidade.
Há pouco tempo, o maior exemplo foi o peso-pesado Tony Tucker. Em 87, com 36 combates, Tucker perdeu seu primeiro combate para Mike Tyson, por pontos.
Só teve nova chance cinco anos mais tarde. Por quê? Inexplicável.
O inglês Henry Akinwande, campeão europeu e invicto em 25 lutas, viu Axel Schulz, a quem já derrotou, enfrentar e perder para George Foreman, em abril.
Mas o problema não é restrito aos lutadores desconhecidos. Virgil Hill, campeão dos meio-pesados da AMB, não consegue fazer mais que uma luta por ano.
Por quê? Inexplicável.

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