São Paulo, sexta-feira, 9 de junho de 1995
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Ignorância também quebra

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA - Ótima idéia. O Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo lançou uma campanha educacional, alertando contra as atraentes arapucas montadas nas lojas. Motivo: pesquisa mostrou que trabalhadores estão quebrados.
Essa reveladora pesquisa tem a ver com milhões de trabalhadores de baixa renda que, na prática, são induzidos ao consumo a qualquer preço -e, agora, muitos deles estão desesperados.
Foram entrevistados 4.573 metalúrgicos de São Paulo. Dos que entraram em crediários, 37% não conseguem saldar as prestações. Ou seja, quebraram.
Projete-se essa percentagem nacionalmente e vamos ver que batalhões de chefes de família ficaram com o nome sujo na praça e, certamente, perderam o sono. Não é à toa que se bateram, em maio, recordes de cheques sem fundo e devolvidos.
O exemplo do sindicato dos metalúrgicos deveria ser reproduzido nacionalmente -ou seja, ensinar como um produto sai muito mais caro quando parcelado várias vezes. Não se vai esperar dos lojistas, claro, essa campanha.
O aumento do consumo é compreensível: maior poder aquisitivo provocado pelo Plano Real. Apesar de todo o aperto do crédito, as vendas continuam muito superiores se comparadas com o ano passado -o que torna suspeita a chiadeira empresarial.
No fundo, o problema é a falta de cidadania. Ou melhor, falta de educação. Os trabalhadores não sabem fazer as contas, são induzidos por anúncios que, de fato, são enganosos.
E a saída é tão simples: basta postergar por alguns meses a compra da televisão, do rádio ou da geladeira. Assim, pode-se pagar à vista.
Esse desespero dos trabalhadores é mais um produto do enfrentamento entre a esperteza e a ignorância.
PS - Por falar em boas experiências sindicais, merece nota dez o projeto do Sindicato dos Bancários de São Paulo, que, com apoio dos bancos, quer cuidar dos meninos de rua do centro da cidade. É uma experiência localizada, mas, caso reproduzida, reduziria em curto prazo a taxa de degradação do país. É justamente aí que se vê como uma corporação pode ajudar com inteligência e criatividade a diminuir a exclusão social. Não sairia mais de R$ 50,00 por criança -quantia em especial insignificante se comparada com os lucros dos bancos.

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