São Paulo, domingo, 11 de junho de 1995
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Cursar medicina não garante bom salário

DENISE CHRISPIM MARIN
DA REPORTAGEM LOCAL

Médicos respeitados, com longos anos de experiência, costumam fazer pelo menos duas observações sobre a carreira profissional aos universitários.
A primeira diz respeito à remuneração. Ganhar bons salários deixou de ser, nos últimos anos, uma compensação garantida para boa parte dos profissionais da área.
A maioria dos médicos se equilibra entre três empregos -dos quais um é o SUS (Sistema Único de Saúde), que paga R$ 524,30 por 20 horas de trabalho semanal.
Apenas 5% sobrevivem como o típico profissional liberal -com seu próprio consultório e sem nenhum vínculo empregatício com hospitais, órgãos de saúde ou indústrias farmacêuticas.
A outra observação trata da atualização constante depois da formatura. A reciclagem deixou de ser uma necessidade para o profissional e tornou-se obrigação.
Isso porque há uma tendência mundial de dobrar a gama de conhecimento na área a cada período de sete anos. Um profissional parado durante 14 anos, portanto, teria tantas informações médicas quanto um engenheiro.
A cada ano, aproximadamente 9.000 universitários concluem o curso de medicina e mergulham no mercado de trabalho.
Teoricamente, o currículo definido pelas faculdades seria suficiente para tornar o recém-formado um clínico geral. Mas há problemas e algumas universidades já propuseram mudanças ao governo.
``Se o médico fizer uma besteira, será punido somente depois de comprovada sua incompetência", afirma Durval Rosa Borges, 52, professor-titular da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo/Escola Paulista de Medicina).
``Ele tem permissão de fazer o que bem entender com o paciente e, na prática, vale mais seu grau de bom senso", completa.
Cerca de 70% dos recém-formados em São Paulo não se contentam com o status de clínico geral e se inscrevem nos exames classificatórios para a residência médica.
A residência é um curso de pós-graduação realizado nos hospitais, com duração de três a cinco anos, que habilita o médico a atuar em um segmento específico.
A especialização se dá com a prática de atendimento a doentes e acidentados em hospitais.
O residente tem 60 horas semanais de atividade -das quais 24 horas seguidas de plantão. Em hospitais do governo de São Paulo, recebe uma bolsa de R$ 900.
``O residente é treinado em um clima de urgência", afirma o médico Luiz Alberto Bacheschi, 53, coordenador da residência da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo).
A residência de aprimoramento é a mais procurada. Ela forma profissionais como o pediatra, o ginecologista e o cirurgião geral.
Também é pré-requisito para os que queiram fazer a especialização de acesso indireto -que forma endocrinologistas, cardiologistas, gastroenterologistas etc.
No total, existem 41 áreas de residência na USP. Desse total, as que apontam maior avanço tecnológico têm atraído maior número de interessados nos últimos anos.
É o caso, por exemplo, de cardiologia, oftalmologia, ortopedia, dermatologia, otorrinolaringologia e cirurgia plástica, entre outras.

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