São Paulo, domingo, 11 de junho de 1995
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Pressão e intriga

SÍLVIO LANCELLOTTI

Aos poucos vai mergulhando no recesso o futebol no Velho Continente. Até o mês de agosto, na Europa, as principais pelejas acontecerão longe dos gramados, no ``mercado de verão", a temporada das transferências de jogadores.
Fervilha, todavia, em outro gênero de bastidores, a grande batalha pelo poder na Fifa, uma antecipação do que ocorrerá em meados de 98, com o final do sétimo mandato do brasileiro João Havelange na presidência da entidade.
Agora, a batalha se desenvolve claramente, documentadamente, no papel. Circulam, entre as quase 200 federações afiliadas à Fifa, três cartas -em originais, ou cópias de xerox, ou fac-símiles enviados pelo telefone internacional.
A primeira delas leva a firma de Havelange e tem como destinatário o suíço Joseph Blatter, o seu secretário-geral, um ex-contestador da presidência, agora novamente um aliado do brasileiro, ao menos circunstancialmente.
No texto, Havelange reafirma a sua ``total confiança" em Blatter e manifesta o seu desejo de mantê-lo ao seu lado até 98, ``como já acontece faz 21 anos". Hoje, o ``capo" da Fifa mais do que nunca necessita de apoio integral do secretário-geral.
As duas outras cartas, afinal, literalmente desafiam e acusam Havelange. Provêm do sueco Lennart Johansson, o líder da Uefa, da Europa, e do camaronês Issa Hayatou, da CAF, da África. Missivas redigidas com uma inesperada agressividade.
Em ambas, nada delicadamente, Havelange é convidado a utilizar o ``máximo de transparência nas negociações dos contratos entre a Fifa e seus patrocinadores, assim como nos acordos de cessão dos seus direitos de televisionamento".
Sem atalhos, a Uefa e a CAF assinalam a sua falta de confiança na Fifa. Lastimam que Havelange, sozinho e pessoalmente, conduza todas as negociações -e apenas depois de fechá-las se digne a comunicar seus termos ao Executivo da entidade.
O caso que mais incomoda Johansson e Hayatou é a renovação do apoio da Coca-Cola à Fifa. Havelange conseguiu tal suporte, originalmente, em 1974. A ligação apenas se encerra em 1999. A Fifa, contudo, segundo a Uefa e a CAF, já estaria cuidando, sem consultá-las, de uma prorrogação por mais 25 anos.
Também enfureceu o sueco e o camaronês o fato de Havelange querer antecipar para janeiro de 96, em vez de junho, a designação da sede da Copa de 2002, uma decisão que favorece o Japão, em detrimento da Coréia do Sul.
Nesse cenário, ganha importância crucial a paz com Blatter. Político brilhante, o suíço é o único homem capaz de enfrentar a Uefa e a CAF com as melhores armas de plantão: a pressão e a intriga.

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