São Paulo, domingo, 11 de junho de 1995
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Leonel tira primeiro dia de folga

ROGÉRIO SIMÕES
ENVIADO ESPECIAL A ZAGREB

Quatro dias depois de libertado pelos sérvios da Bósnia-Herzegóvina, o capitão brasileiro e observador militar da ONU João Batista Bezerra Leonel Filho, 33, quer agora passear.
Leonel começou ontem um período de dez dias de folga, em que ele pretende viajar, mas não decidiu ainda para onde. "Talvez Alemanha, Inglaterra, vou abrir um livro e o lugar que eu achar mais bonito, eu vou."
O capitão encontrou-se ontem de manhã com a reportagem da Folha na base da ONU, em Zagreb, enquanto esperava por sua bagagem, que não coube no helicóptero em que ele foi levado para Belgrado logo depois de solto.
Leonel decidiu não ir agora ao Brasil porque, segundo ele, ainda não há um clima ideal para encontrar seus amigos. ``Eu vou chegar lá, vai ter o pessoal contente, mas ainda tem muita gente detida, tem o Harley lá", disse.
``Eu sinto que não tem clima para mim. Vou comemorar o que, se está todo mundo detido?", afirmou, referindo-se aos 146 ainda reféns, entre eles 23 observadores militares (incluindo o capitão brasileiro Harley Alves).
Paulistano, casado com uma gaúcha mas ainda sem filhos, Leonel não teve tempo de sentir muita saudade do Brasil. Ele se apresentou à ONU no dia 16 de maio e começou a trabalhar em seu posto, em Sarajevo, no dia 24.
Dois dias depois, seu grupo foi avisado pelas forças sérvias de que não poderia mais deixar o local.
Sua equipe na capital bósnia é formada por nove observadores militares, cada um de um país diferente: Finlândia, França, Noruega, Reino Unido, Bélgica, Rússia, Quênia, Jordânia e Brasil.
Apesar de ter ficado apenas dois dias trabalhando em circunstâncias normais, Leonel disse que foi o suficiente para aprender muito sobre a região.
O trabalho dos observadores no local é basicamente fazer uma ponte de contato com o Exército Sérvio da Bósnia e Exército da Bósnia-Herzegovina.
Para um serviço em que a comunicação é vital, a equipe dispõe de seis intérpretes, que falam inglês e se revezam diariamente.
``O intérprete é de fundamental importância. Conhece inclusive as pessoas, mora na região", disse.
Leonel já se ofereceu para voltar a seu posto em Sarajevo depois de sua folga. A primeira visita ao Brasil deverá esperar mais um pouco, pelo menos quatro meses.
Durante este tempo ele pretende continuar estudando para um curso por correspondência do Exército e aprendendo suas primeiras palavras em servo-croata. ``Tenho interesse em falar a língua deles e já comecei a estudar."

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