São Paulo, domingo, 11 de junho de 1995 |
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Bienal de Veneza abre hoje ao público
DANIEL PIZA
Com o tema ``Identidade e Alteridade", a exposição central, no Palazzo Grassi, celebra a história da figura humana na pintura, escultura e fotografia. Ontem à tarde, foram anunciados os dois ganhadores do ``Leão de Ouro", o prêmio máximo da Bienal: os norte-americanos R. B. Kitaj (pintura) e Garry Hill (escultura). O pavilhão nacional do Egito também foi premiado. A pintora irlandesa Kathy Brendergast recebeu o prêmio ``Duemilla". Pela primeira vez, a Bienal é dirigida por um não-italiano, o crítico francês Jean Clair, 55. Sua curadoria extingiu o ``Aperto", mostra de arte jovem (para artistas com menos de 35 anos) que desde os anos 80 alimentava o interesse pela Bienal. A extinção do ``Aperto" é o centro da polêmica que acompanha a abertura da Bienal, já visitada por convidados e cerca de 3 mil jornalistas desde a última quarta. Os que fazem e vivem da arte contemporânea esperavam que, no seu centenário, a Bienal mostrasse qual será a arte do próximo século. Clair escolheu o contrário. ``Identidade e Alteridade" conta cem anos de arte através da representação do corpo humano, com obras de Rodin, Picasso, Munch, Pollock, Dubuffet, Lucian Freud e outros. É excelente, do ponto de vista da curadoria e da releitura da história da arte. Clair lança luzes novas sobre a modernidade, fazendo associações entre arte e ciência e promovendo analogias inesperadas entre artistas de épocas diferentes deste século. A pesquisa da curadoria é prodigiosa; a montagem, fascinante. Há tempos não se produzia um show tão ambicioso que justificasse tanta ambição. Em contraposição, as representações nacionais se revelam fracas. Há pouca novidade e inventividade. Os melhores pavilhões -Alemanha (com Katharina Frisch, EUA (Bill Viola), França (César), Grã-Bretanha (Leon Kossof)- são de países com forte tradição artística e trazem nomes já consagrados. Entre as maiores atrações estão o francês César, 74, que trabalha com sucatas de automóveis compactadas e o americano Bill Viola, 44, que apresenta uma video-instalação dividida em cinco salas. Outro destaque é o dinamarquês John Olsen, 57, com um trabalho de coleta e exibição serializada de animais mortos. Também a holandesa Marlene Dumas, 42, com uma pintura figurativa na linhagem expressionista, e o australiano Bill Henson, 40, com colagens de papel fotográfico que fragmentam o corpo humano, se destacam. O pavilhão brasileiro não tem muito impacto. A ``craca", do artista Nuno Ramos -uma grande casca de alumínio em ``L", onde estão incrustados seres marinhos como se fossem fósseis-, decepciona. Já a sala reservada a Arthur Bispo do Rosário é muito adequada ao espaço do pavilhão e ao tema ``Identidade". Mas sofre do excesso de trabalhos, o que dá irregularidade ao conjunto. A metade da sala onde estão os mantos e panôs de Bispo é muito superior à metade onde estão as peças e estantes. Mesmo assim, é das melhores representações. Curiosamente, é na ``Identidade e Alteridade", que se pode ver parte significativa da arte contemporânea, à maneira de um ``Aperto": a mostra ``O Corpo Real e Virtual". Os trabalhos de Nancy Burson, Jeanne Dunning, Judy Fox e Inez Van Lamsweerde confirmam que a década de 90 será lembrada como a da ``arte mórbida". É um horror. A americana Nancy Burson, 47, por exemplo, mostra fotos de bebês com deficiências genéticas; e Jeanne Dunning, 35, faz fotos de detalhes e feridas do corpo humano. O corpo, nos anos 90, parece uma câmara de horrores. Texto Anterior: Líder nega ligação com milícias Índice |
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